O Drama dos Refugiados
Pio Penna Filho *
Existem hoje milhões de pessoas vivendo em campos de refugiados espalhados por vários continentes. São pessoas que geralmente perderam tudo e conseguiram, a duras penas, salvar as suas vidas se deslocando para locais distantes das zonas de conflito. Esse é um drama pouco mostrado pela imprensa e que a maior parte das pessoas desconhece ou não quer nem tomar conhecimento.
No Brasil, por exemplo, o tema
refugiados não costuma comover as pessoas, a não ser, é claro, aqueles que se
dedicam diretamente ao problema, recebendo e tentando resolver a situação
dramática de quem teve que partir de sua terra para não morrer. Na verdade,
temos poucos refugiados em nosso país. Poderíamos, sem dúvida, ter uma
participação mais ativa para ajudar a minorar o sofrimento de milhares de
pessoas.
A África é o continente mais
afetado quando o assunto é refúgio. Quando um país passa por uma guerra civil –
e, infelizmente, isso ainda é muito frequente no continente africano –
rapidamente muitas pessoas são obrigadas a partirem para outra região do seu
país (esses são chamados de “deslocados”) ou para o exterior, o que caracteriza
o status de refugiado.
Enquanto escrevo essas linhas,
existem milhares de pessoas sendo atendidas em campos de refugiados por
Organizações Não-governamentais, como os Médicos Sem Fronteiras, em países
vizinhos a regiões de conflitos. É o caso, por exemplo, do que ocorre nos
Camarões, um dos países que recebe refugiados da guerra na República Centro
Africana.
Outro exemplo dramático, que se
constitui hoje como o caso que apresenta o maior número de refugiados no mundo,
é o da Síria. Um dos efeitos da sua longa guerra civil foi o deslocamento de
milhares de sírios em direção a países vizinhos, como Iraque, Turquia e
Jordânia, e isso sem contar que milhares de sírios foram também para outras
partes do mundo, em países muito distantes, como o próprio Brasil.
Não existe solução mágica para
esse problema. A ONU, por meio do Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (ACNUR), faz o que pode, mas suas iniciativas são sempre
insuficientes. Muitos governos também ajudam, mas nenhum deles prioriza o
atendimento a refugiados, que em alguns casos são percebidos até mesmo como
problema de segurança nacional. Na linha de frente, geralmente o apoio vem de
Organizações Não-governamentais, que realizam um trabalho humanitário
fantástico, apesar de muito perigoso.
A vida de um refugiado é repleta
de dor e sofrimento e leva-se um enorme tempo até que a vida entre nos eixos
novamente. O instinto de sobrevivência e as duras condições de uma situação de
conflito fazem com que as pessoas passem por privações de toda ordem, se
deslocando em situações de perigo, passando fome, contraindo doenças e traumas
que muito dificilmente serão superados.
Podemos fazer mais a respeito do
drama dos refugiados. Como país emergente o Brasil poderia e deveria ser mais
ativo e acolhedor com os refugiados que o procuram. Como pessoas, podemos
também fazer muito, ajudando mesmo que modestamente o heroico trabalho
desenvolvido pelas Organizações Não-governamentais que atuam na linha de
frente, trabalhando arduamente para amenizar esse drama humano nas condições
mais adversas.
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* Professor do Instituto de
Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do
CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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