sábado, 26 de fevereiro de 2011

Conheça a história da Líbia

Golpe militar depôs o rei Idris e levou o coronel Kadhafi ao poder, em 1969.
Membro da Opep, país é um dos principais produtores de petróleo na África.

Do G1, com agências internacionais

Mapa com dados Líbia VALE ESTE 2 (Foto: Editoria de Arte / G1)Editoria de Arte / G1

Agora separada entre o leste, nas mãos da oposição, e o oeste, nas de Kadhafi, a Líbia é historicamente um cruzamento do Maghreb e do Machrek, marcada por tradições tribais. Passou à idade moderna no século XX, graças a suas imensas reservas de petróleo.

Por muito tempo oculta pela forte personalidade de seu líder e "guia", o coronel Muamar Kadhafi, a Líbia vive uma insurreição sem precedentes.

Independente desde 1951, com a ascensão ao poder do rei Idriss al-Senoussi, o país é dirigido pelo ex-capitão, promovido a coronel pelo golpe de Estado de setembro de 1969.

Ironia da história, o golpe de Estado de Kadhafi e dos 60 oficiais rebelados começou em Benghazi, epicentro hoje da contestação.

Trípoli, antigo cruzamento de rotas comerciais, abrigo de piratas e mercadores de escravos antes da era moderna, é a capital deste vasto Estado de 1,76 milhões de km2 - 93% dele desértico.

Com uma população de 6,3 milhões de habitantes, entre eles 1,5 milhão de imigrantes, essencialmente africanos, concentrada nas margens do Mediterrâneo, a Líbia tira suas riquezas do subsolo, rico em hidrocarbonetos, principalmente no leste do país.

O rei Idris chega ao Egito, onde se exilou após o golpe de 1969, enquanto o coronel Kadhafi discursa para a população, em Trípoli (Foto: AFP)O rei Idris chega ao Egito, onde se exilou após o
golpe de 1969, enquanto o coronel Kadhafi discursa
para a população, em Trípoli (Foto: AFP)

Até meados do século XX, vivia da agricultura, submetida aos caprichos do clima. País pobre, a Líbia sobrevivia com a ajuda internacional.

A descoberta da jazida de petróleo em Zaltan, em junho de 1959, por geólogos da gigante americana Esso (hoje Exxon), no oeste do país, mudou o tom. O coronel Kadhafi ordenou a nacionalização das jazidas. Mas o país ainda dependia da tecnologia das empresas internacionais para a exploração do ouro negro.

Membro da Opep, a Líbia é um dos principais produtores de petróleo na África, com 1,8 milhão de barris por dia. Suas reservas são avaliadas em 42 bilhões de barris. O petróleo representa mais de 95% das exportações e 75% das receitas do Estado.

O país, que empreendeu desde o levantamento do embargo, em 2003, uma série de reformas para liberalizar a economia, registrou um crescimento de 10,3% em 2010 e a previsão é de que venha a crescer cerca de 6,2% em 2011.

Concedeu, nos últimos anos, contratos a numerosas sociedades multinacionais.

Localização
Situada entre a Tunísia, a oeste, e o Egito, a leste, a Líbia corresponde, historicamente, a soma das regiões Tripolitana (oeste), Cirenaica (leste) e Fezzan (sul).

A Cirenaica, hoje nas mãos dos rebeldes e militares que deixaram o dirigente líbio, está historicamente voltada para o Egito e o Machrek - um termo que se refere a uma área geográfica em torno das partes leste e sul do Mar Mediterrâneo - região que demonstrava, às vezes, hostilidade em relação ao poder central.

No sul, Fezzan, uma zona mais desértica e mais tribal, mantém contatos com a Tripolitana, voltada para o Maghreb - uma região africana que abrange, em sentido estrito, Marrocos e Sahara Ocidental -, e com a Cirenaica.

Sistema de governo
Sob o impulso do coronel Kadhafi, o país aboliu as instituições parlamentares, enaltecendo o anti-imperialismo, o pan-arabismo e o Islã.

Após o golpe militar de 1969, ele começou a implantar seu próprio sistema político, a Terceira Teoria Universal, expresso no “Livro Verde”, livro que publicou nos anos 1970 e que o acompanha nos discursos.

O sistema é apresentado como uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo. Derivado em parte de práticas tribais, supõe a implementação pelo próprio povo líbio de uma forma única de “democracia direta”.

Vindo de uma família pertencente a uma pequena tribo, o coronel Kadhafi passou em 40 anos por várias situações de oposição: viu líderes tribais suplantados por tecnocratas, líderes religiosos em desavença com sua aproximação do Islã, estudantes de Benghazi manifestando-se em 1976, monarquistas nostálgicos da realeza, e até militares que desertaram.

Nos anos 80, seu regime apoiou grupos terroristas como o Setembro Negro, que assassinou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique e o grupo separatista basco ETA, acusado de centenas de mortes na Espanha.

Cabine do avião da Pan Am que sofreu atentado com 259 pessoas a bordo em Lockerbie, na Escócia, em 1988 (Foto: AFP)Cabine do avião da Pan Am que sofreu atentado com 259 pessoas a bordo em Lockerbie, na Escócia, em 1988 (Foto: AFP)

Kadhafi também negou a extradição do terrorista líbio Abdel Basset al Megrahi, que em 1988 foi acusado de colocar uma bomba num voo da PanAm que explodiu na Escócia, matando 270 pessoas.

Nos anos 90, assumiu responsabilidade pelo ataque ao voo e pagou indenização aos familiares das vítimas, pondo fim a anos de sanções da ONU (Organização das Nações Unidas). Em 2003, foi tirado da relação de países com ligações com terroristas pelo então presidente dos EUA, George W. Bush.

Em 2008, os dois países assinaram um acordo bilateral que normalizou a relações e voltaram a ter embaixadores pela primeira vez desde 1973. No mesmo ano, a ONU aceitou que a Líbia participasse do Conselho de Segurança como membro não permanente e em 2010 o país foi eleito para o Conselho de Direitos Humanos da organização.

*(Com informações da France Presse)


Entenda as variações de fonética e grafia do nome do ditador da Líbia

Muammar Kadhafi tem 112 registros de grafias diferentes.
'Transliteração mais correta seria Mu'amar Al Kadhafi', diz especialista.

Paulo GuilhermeDo G1, em São Paulo

Muammar Kadhafi, Muamar Gaddafi, Mu'ammar al-Qadhdhafi... A grafia ocidental do nome do ditador da Líbia encontra 112 variações diferentes em jornais, livros e documentos. A Library of Congress, órgão do governo dos Estados Unidos, por exemplo, lista 72 variações do nome do político. O G1 adota a grafia Muammar Kadhafi.

As variações foram notícia em reportagem do Jornal da Globo (no vídeo ao lado) e em outros veículos de comunicação. Para entender as razões de tantas diferenças de grafia e fonética, o G1 ouviu a especialista de estudos de cultura e literatura árabe Muna Omran, professora do departamento de Letras da Universidade Plínio Leite, do Rio, e editora da revista acadêmica Litteris, onde escreve sobre estudos árabes e islâmicos.

"Esta polêmica existe por conta da transliteração e dos fonemas árabes que não existem no nosso alfabeto", explica Muna Omran.

Arte Kadhafi (Foto: Editoria de Arte/G1)Observações: 1) A leitura em árabe é feita da direita
para a esquerda; 2) A grafia representada segue a
tipologia dos computadores ocidentais; a grafia em
árabe está representada na imagem menor (Foto:
Editoria de Arte/G1)

Segundo ela, a transliteração mais correta seria Mu'amar Al Kadhafi, assim, com apóstrofo no prenome e mais um "dh" e um "f" no sobrenome.

"Na grafia em árabe do nome do ditador (na imagem ao lado), a letra que se encontra depois do Al (que inicia o nome dele) seria na língua portuguesa o nosso 'Q', mas para podermos enfatizar a força deste fonema usa-se o 'K'", explica a professora.

Ainda de acordo com Muna, a letra árabe seguinte representa o "dh" do sobrenome de Kadhafi. "Não há necessidade de se pronunciar o 'f' dobrado", diz. Sobre o primeiro nome, a professora explica que uma das letras representaria o apóstrofo em Mu'amar.

"É importante salientar que existe uma variação da oralidade da língua árabe de acordo com as diversas regiões", explica Muna. "Em países do Norte da África se pronuncia o K como G, por isso há registros do nome Gaddafi. "Já a oralidade da Siria, Jordãnia, Líbano e Arábia Saudita se aproxima do árabe clássico, com outras variações."

Veja como alguns meios de comunicação grafam o nome do ditador:

BBC, Reino Unido - Gaddafi
Clarín, Argentina - Kadafi
El Pais, Espanha - Gadafi
Folha de S. Paulo, Brasil - Gaddafi
La Repubblica, Itália - Gheddafi
Le Monde, França - Kadhafi
New York Times, EUA - Qaddafi
Público, Portugal - Khadafi
O Globo, Brasil - Kadafi

Veja 112 variações de grafia do nome do ditador da Líbia
Al Qathafi, Mu'ammar
Al Qathafi, Muammar
El Gaddafi, Moamar
El Kadhafi, Moammar
El Kazzafi, Moamer
El Qathafi, Mu'Ammar
Gadafi, Muammar
Gaddafi, Moamar
Gadhafi, Mo'ammar
Gathafi, Muammar
Ghadafi, Muammar
Ghaddafi, Muammar
Ghaddafy, Muammar
Gheddafi, Muammar
Gheddafi, Muhammar
Kadaffi, Momar
Kad'afi, Mu`amar al- 20
Kaddafi, Muamar
Kaddafi, Muammar
Kadhafi, Moammar
Kadhafi, Mouammar
Kazzafi, Moammar
Khadafy, Moammar
Khaddafi, Muammar
Moamar al-Gaddafi
Moamar el Gaddafi
Moamar El Kadhafi
Moamar Gaddafi
Moamer El Kazzafi
Mo'ammar el-Gadhafi
Moammar El Kadhafi
Mo'ammar Gadhafi
Moammar Kadhafi
Moammar Khadafy
Moammar Qudhafi
Mu'amar al-Kadafi
Muamar Al-Kaddafi
Muamar Kaddafi
Muamer Gadafi
Muammar Al-Gathafi
Muammar al-Khaddafi
Mu'ammar al-Qadafi
Mu'ammar al-Qaddafi
Muammar al-Qadhafi
Mu'ammar al-Qadhdhafi
Mu`ammar al-Qadhdhafi 50
Mu'ammar Al Qathafi
Muammar Al Qathafi
Muammar Gadafi
Muammar Gaddafi
Muammar Ghadafi
Muammar Ghaddafi
Muammar Ghaddafy
Muammar Gheddafi
Muammar Kaddafi
Muammar Khaddafi
Mu'ammar Qadafi
Muammar Qaddafi
Muammar Qadhafi
Mu'ammar Qadhdhafi
Muammar Quathafi
Mu'ammar Muhammad Abu Minyar al-Qadhafi
Qadafi, Mu'ammar
Qadhafi, Muammar
Qadhdhafi, Mu'ammar
Qathafi, Mu'Ammar el 70
Quathafi, Muammar
Qudhafi, Moammar
Moamar AI Kadafi
Maummar Gaddafi
Moamma Gaddafi
Moammar Gaddafi
Moammar Gadhafi
Moammar Ghadafi
Moammar Khadaffy
Moammar Khaddafi
Moammar el Gadhafi
Moammer Gaddafi
Mouammer al Gaddafi
Muamar Gaddafi
Muammar Al Ghaddafi
Muammar Al Qaddafi
Muammar Al Qaddafi
Muammar El Qaddafi
Muammar Gadaffi
Muammar Gadafy
Muammar Gaddhafi
Muammar Gadhafi
Muammar Ghadaffi
Muammar Qadthafi
Muammar al Gaddafi
Muammar el Gaddafy
Muammar el Gaddafi
Muammar el Qaddafi
Muammer Gadaffi
Muammer Gaddafi
Mummar Gaddafi
Omar Al Qathafi
Omar Mouammer Al Gaddafi
Omar Muammar Al Ghaddafi
Omar Muammar Al Qaddafi
Omar Muammar Al Qathafi
Omar Muammar Gaddafi
Omar Muammar Ghaddafi
Omar al Ghaddafi

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O cordão dos puxa-sacos

O cordão dos puxa-sacos


09/1945


Autor: E. Frazão e Roberto Martins
Intérprete: Anjos do Inferno
Gênero: Marcha


A marchinha começa citando “No bico da chaleira”, de Juca Storoni, sucesso estrondoso do carnaval de 1909 (ver CD “República Velha”), um clássico na gozação dos aduladores que infestam a política. Mas ela não se limita a olhar para o passado. Fala também sobre o momento político que o país atravessava, marcado pelo enfraquecimento de Getulio Vargas, pelo avanço do processo de democratização e pelas negociações políticas visando às eleições que se aproximavam. “Quanta reverência nos cordões eleitorais / Se o doutor cai do galho e vai ao chão”, cantava a marchinha, referindo-se a Getulio, “a turma toda evolui de opinião”. E terminava com um verso que se transformou num bordão tanto na política como na música popular brasileira: “E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”.

“Iaiá me deixa
Subir essa ladeira
Eu sou do bloco
Mas não pego na chaleira

Lá vem o cordão dos puxa-sacos
Dando “vivas” aos seus maiorais
Quem está na frente é passado pra trás
E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais

Vossa Excelência, Vossa Eminência
Quanta reverência nos cordões eleitorais
Mas se o doutor cai do galho e vai ao chão
A turma toda evolui de opinião
E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”

fonte: http://www.franklinmartins.com.br

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Socióloga americana acompanha transformação vivida nas favelas cariocas

Janice Perlman acompanha a vida nas favelas do Rio desde o final dos anos 60, e chegou a morar em três comunidades cariocas. Ela fala sobre as mudanças com a expulsão dos criminosos pelo poder público.


Conheça a história do cangaço e as duas faces de Lampião

Comandados por Lampião, os cangaceiros armados invadiam cidades, vilas e fazendas. Em contraste ao lado sanguinário, Lampião tinha habilidades com máquina de costura.

Historiador André Figueiredo Rodrigues fala da Inconfidência Mineira


No livro A Fortuna dos Inconfidentes foi objeto de 12 anos de pesquisa e traz revelações surpreendentes sobre o movimento.

Corrupção na Inconfidência Mineira

Obra revela que propina, venda de cargos públicos e sonegação de impostos eram comuns entre os inconfidentes - e esses golpes eram articulados pelas musas que os poetas revoltos cantavam

Natália Rangel

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HERANÇA
Em Vila Rica, atual Ouro Preto, os poderosos pagavam por privilégios pessoais

Se depender da exaustiva e minuciosa pesquisa do historiador paulista André Figueiredo Rodrigues, o calendário nacional corre o risco de perder um de seus feriados mais importantes e festejados: o de 21 de abril. Nessa data se homenageia o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, mártir da Inconfidência Mineira enforcado e esquartejado no ano de 1792. O historiador Rodrigues é o autor do recémlançado livro “A Fortuna dos Inconfidentes” (Globo), obra que revê radicalmente alguns aspectos do movimento mineiro, desconstruindo parte de seu ideário. Tiradentes era um dos rebeldes dessa sublevação. O autor do livro teve acesso a uma infinidade de documentos e de processos judiciais da época. A grande novidade é que, através deles, descobre- se que a corrupção e a festa com o dinheiro público não é característica dos atuais dias republicanos. A Inconfidência foi uma reação do Brasil Colônia contra os impostos escorchantes cobrados pela Coroa Portuguesa. Através da íntegra dos relatórios, a obra revela que boa parte dos bens que até hoje se atribuíam aos inconfidentes correspondia, na verdade, a uma ínfima parte de seu patrimônio real – ou seja, eles sonegavam o máximo que podiam. “Tudo o que era possível esconder, eles escondiam”, diz Rodrigues.

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O OURO DE TIRADENTES
De acordo com o livro, o mártir da Inconfidência não vivia de seu modesto soldo militar como
alferes – ele foi um homem influente e rico. Ganhou o direito de explorar 47 pontos de mineração na
Mantiqueira, criava gado, possuía sítios, sesmarias e escravos. Atuava também como agiota,
emprestando dinheiro a juros escorchantes. O livro defende a tese de que Tiradentes
não queria reformas sociais e igualdade de direitos

Assim, é equivocada a versão que se tinha até agora de que os 24 inconfidentes condenados por crime de lesa-majestade eram pessoas de posses muito modestas. Na visão de Rodrigues, os inconfidentes estavam distantes dos ideais de igualdade e liberdade defendidos pela Revolução Francesa e prova disso é que 60% deles eram proprietários de escravos e não se mostravam dispostos a aderir às teorias abolicionistas. Na narrativa do autor, o que se percebe é que todos eles buscavam burlar a autoridade da Coroa Portuguesa em benefício próprio e muitos entraram para o grupo dos inconfidentes em busca justamente de ajuda financeira. Entre os idealistas estão os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga (autor de “Marília de Dirceu”) e entre os pragmáticos que se aproveitaram do movimento para ganhar mais poder e fortuna estão os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, os padres José da Silva e Oliveira Rolim e Carlos Corrêa de Toledo, o sargento Luís Vaz de Toledo Pisa, o minerador, e também poeta, Inácio José de Alvarenga Peixoto. Esse último se tornou ouvidor de Minas por indicação de um amigo influente – cargo que lhe foi comprado a peso de ouro. O livro conta que Alvarenga Peixoto, como representante do governador, pediu seis contos de réis para comprar produtos para a guerra contra os espanhóis travada no Sul do País. Recebeu o dinheiro público, mas o guardou para si e deu um calote geral. Utilizou-o para pagar as suas próprias dívidas, que nada tinham a ver com o conflito.

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“É a mesma forma de burlar e se apropriar do bem público.
Igualzinho ao que acontece hoje”

André Figueiredo Rodrigues, autor de “A Fortuna dos Inconfidentes”

Alguns nomes pouco lembrados na história da Inconfidência Mineira são os das mulheres dos revoltosos e elas ganharam destaque no livro. Após a prisão dos rebeldes coube a essas esposas administrar os bens da família para que tudo não se perdesse nos leilões da Coroa. E no processo de preservação do patrimônio, nunca por meios lícitos, elas mostraram ser mestres no ofício, como explica Rodrigues: “As mulheres burlaram as leis, tocaram as fazendas, subornaram os meirinhos e juízes. Foram responsáveis pela preservação da fortuna dos inconfidentes nas mãos das próprias famílias.” Para isso lançaram mão dos compadres influentes e dos amigos que tinham funções no alto escalão do palácio. É o caso de Bárbara Eliodora, mulher de Alvarenga Peixoto, e de Hipólita Jacinta, esposa de Antônio de Oliveira Lopes, grande proprietário da região mineira de Prados – ambos os maridos presos como inconfidentes.

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O QUE HÁ DE NOVO
O poeta Alvarenga Peixoto enriqueceu ao “comprar” um cobiçado cargo de ouvidor
O confisco dos inconfidentes pela Coroa foi em vão: eles ocultaram 90% de seus bens
Bárbara Eliodora não ficou louca nem miserável: salvou grande parte de seu patrimônio

Bárbara Eliodora entrou para a historiografia oficial como uma viúva que enlouqueceu de amor e morreu na penúria. Na verdade, ela teve uma velhice tranquila e ainda deixou riquezas para toda a sua descendência, segundo provam os dados reunidos no livro. Bárbara soube acionar parceiros para proteger a fortuna do marido que Portugal tentava embolsar. Já Hipólita, também esperta, mostrou- se uma hábil financista ao encontrar por si mesma uma forma de subornar os fiscais da Coroa Portuguesa que tinham ordem para efetuar o seqüestro de seus bens. Numa carta reproduzida no livro e que revela claramente a mentalidade daquele período, Alvarenga Peixoto escreve às autoridades coloniais: “Entretanto, espero que Vossa Mercê dê alguma desculpa a um mineiro que tem obrigação e necessidade de ser mentiroso como os outros.” O trecho da correspondência aponta para uma das características marcantes dos inconfidentes: a mentira na divulgação do patrimônio e a consequente sonegação. Como se vê, a partir da obra de Rodrigues, há muita gente no Brasil, sobretudo na classe política, que vive um eterno 21 de abril.