quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Confira as questões do vestibular 2015 da UEL


A análise do tema modernidade, por pensadores clássicos da Sociologia, está presente também em autores contemporâneos, atentos às condições da sociedade atual. No século XIX, Karl Marx, em seu livro O Manifesto Comunista, de 1848, refere-se à sociedade burguesa de seu tempo como formação social em que tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.
(MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. In: COUTINHO, C. N. et al. O Manifesto Comunista: 150 anos depois. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p.11.)


Zigmunt Baumann, em Confiança e medo na cidade, afirma que se, entre as condições da modernidade sólida, a desventura mais temida era a incapacidade de se conformar, agora – depois da reviravolta da modernidade “líquida” – o espectro mais assustador é o da inadequação. Temor bem justificado quando consideramos a enorme desproporção entre a quantidade e a qualidade de recursos exigidos por uma produção efetiva de segurança do tipo “faça você mesmo”.
(Adaptado de: BAUMANN, Z. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p.21-22.)


Com base nesses trechos e nos conhecimentos sobre modernidade, apresente
a) uma característica particular para Marx e uma para Baumann;
b) duas características comuns para ambos os autores.



QUESTÃO 1 – EXPECTATIVA DE RESPOSTA
Conteúdo programático: O conhecimento em Ciências Sociais: introdução ao estudo da sociedade – Teoria e Método.

Resposta esperada:
a) Para Marx: volatilidades/fugacidades; ou profanações do sagrado; ou novas relações sociais marcadas por reciprocidades; ou transformações constantes/aceleradas dos instrumentos de produção; ou inexorabilidade da condição de classe. 
Para Baumann: fluidez; ou insegurança; ou incerteza; ou falta de garantia; ou problemas relacionados ao processo de individualização.

b) Ambos os autores avaliam, em suas épocas, a modernidade como processo transformador das relações sociais de outrora, definem a modernidade a partir do capitalismo, mostram que, no lugar de sociedades mais duradouras, com a modernidade surgem relações sociais menos estáveis.

2. Émile Durkheim considera o fato social o objeto de estudo da Sociologia e propõe regras para explicá-lo. Duas dessas regras são formuladas da seguinte maneira:
(I) A causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais anteriores, e não entre os estados de consciência individual.
(II) A função de um fato social deve ser sempre buscada na relação que mantém com algum fim social.
(DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 5.ed. São Paulo: Editora Nacional, 1968. p.102.)


Com base nas regras (I) e (II) e nos conhecimentos sobre o fato social, explique como se dá a relação entre indivíduo e sociedade para Durkheim. Exemplifique essa relação.

QUESTÃO 2 – EXPECTATIVA DE RESPOSTA
Conteúdo programático: Indivíduo, Identidade e Socialização.


Resposta esperada:
Para Durkheim, há predominância da sociedade sobre o indivíduo, e o fato social não é apenas a soma dos comportamentos individuais, pois ele é dotado de natureza própria. O indivíduo, ao agir, pensar e sentir, segundo o autor, expressa fatos sociais anteriores e suas condutas estão relacionadas também a fins e a fatos sociais posteriores. Assim, agir em sociedade, mesmo em benefício próprio, significa adotar comportamentos coletivos e não meramente individuais. As maneiras de ser, pensar e sentir, expressando-se através da moral, da religião, da educação, da produção e do consumo, da política, dos costumes, dos gostos, da moda etc., são socialmente determinadas e configuram os exemplos dessa relação.



Leia o texto a seguir.
Recapitulemos analiticamente os elementos apontados como integrantes do conceito de bairro, começando pela base territorial, essencial à sua configuração. Mas, além de determinado território, o bairro se caracteriza por um segundo elemento, o sentimento de localidade existente nos seus moradores, e cuja formação depende não apenas da posição geográfica, mas também do intercâmbio entre as famílias e as pessoas, vestindo por assim dizer o esqueleto topográfico – “O que é bairro?” – perguntei certa vez a um velho caipira, cuja resposta pronta exprime numa frase o que se vem expondo aqui: – “Bairro é uma naçãozinha.” – Entenda--se: a porção de terra a que os moradores têm consciência de pertencer, formando uma certa unidade diferente das outras. A convivência entre eles decorre da proximidade física e da necessidade de cooperação.
Sabemos que, no regime de economia de subsistência, é possível exercer as atividades da lavoura em base exclusivamente familiar – cada família bastando-se a si mesma e podendo, em consequência, viver relativamente isolada, sem integrar-se noutra estrutura mais ampla.

(Adaptado de: CANDIDO, A. Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 9.ed. São Paulo: Duas Cidades, 2001. p.84-85.)


Nesse texto, o sociólogo brasileiro Antonio Candido, referindo-se à vida “rural” brasileira, conceitua o “bairro” do campo e o diferencia da sociedade mais ampla e urbana.

Cite três características integrantes desse conceito sociológico de “bairro rural” presentes no texto.

QUESTÃO 3 – EXPECTATIVA DE RESPOSTA
Conteúdo programático: O conhecimento em Ciências Sociais: introdução ao estudo da sociedade – Teoria e Método.


Resposta esperada:
Entre as características integrantes do conceito de “bairro rural” estão: base territorial/território; sentimento de localidade; sentimento de pertença/pertencimento/consciência de pertencer; intercâmbio/cooperação/solidariedade entre famílias; economia de subsistência; unidade familiar de produção; isolamento relativo; distância relativa da sociedade mais ampla; vizinhança/grupo de vizinhança; proximidade física e necessidade de cooperação; naçãozinha/representação.

4. Leia o fragmento a seguir, de Sobrados e Mucambos, de 1936, do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre.
Os engenhos, lugares santos donde outrora ninguém se aproximava senão na ponta dos pés e para pedir alguma coisa – pedir asilo, pedir voto, pedir moça em casamento, pedir esmola para a festa da igreja, pedir comida – deram para ser invadidos por agentes de cobrança, representantes de uma instituição arrogante da cidade – o Banco – quase tão desprestigiadora da majestade das casas-grandes quanto a polícia. Houve senhores que esmagados pelas hipotecas e pelas dívidas encontraram amparo no filho ou no genro, deputado, ministro, funcionário público. O Estado foi afinal o “grande asilo das fortunas desbaratadas da escravidão”.
(Adaptado de: FREYRE, G. Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento urbano. 14.ed. São Paulo: Global, 2003. p.121-123.)

Com base no texto e nos conhecimentos sociológicos sobre o Brasil, cite, no mínimo, três características da descrição de Freyre a respeito do processo de modernização que se instalou no País.


QUESTÃO 4 – EXPECTATIVA DE RESPOSTA
Conteúdo programático: O conhecimento em Ciências Sociais: introdução ao estudo da sociedade – Teoria e Método.


Resposta esperada:
Investigando minúcias da vida cotidiana do século XIX no País, Freyre descreve o processo de modernização com as seguintes características: ele seria decorrente da entrada do capitalismo avançado, que acentuou a animosidade entre setores que disputavam o poder (patriarcado e burguesia) sem que isso, contudo, modificasse os fundamentos da cultura patriarcal; essa modernização, ainda segundo o autor, teria sido marcada também por arranjos entre esse patriarcado e as emergentes forças comerciais, industriais e financeiras; nesse contexto, o patriarcalismo se enfraquece diante das novas formas de poder, mas continuaria a se reproduzir por meio de relações familiares no interior do Estado; isso se expressaria, finalmente, no comportamento de setores dominantes na vida pública e privada, com trocas de favores, apadrinhamentos e privilégios para amigos.