A IV Cúpula dos BRICS
Pio Penna Filho*
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países emergentes que formam o grupo denominado de BRICS, se reuniram nos dias 28 e 29 de março passado em Nova Déli, Índia, para a realização da IV Cúpula de chefes de Estado dos países membros.
Os BRICS constituem um importante grupo que tem um futuro promissor, pelo menos de acordo com as estatísticas atuais. Tudo indica que nas próximas décadas esses países serão os responsáveis pela maior parte da produção de riqueza em escala global. Portanto, é mais do que legítimo que busquem também um papel maior na definição da ordem mundial.
Já em 2008 o grupo despontava como sendo responsável por 31,5% do PIB mundial, frente a 18,5% dos Estados Unidos, 17% da Europa Ocidental e 5,5% do Japão. Um desempenho animador, sobretudo se comparado com o que essas economias, juntas, representavam no início da década de 1980.
É certo, porém, que quando pensamos em termos de grupo há uma tendência para minimizar as diferenças internas no grupo, homogeneizando o que é, por excelência, heterogêneo. E isso não apenas do ponto de vista do desempenho econômico, mas também político.
Não resta dúvida que a China, por exemplo, é o país que apresenta o melhor desempenho entre todos e possui interesses tão específicos que é possível, inclusive, vislumbrar a longo prazo uma atuação mais individual do gigante asiático, descolando a sua agenda e deixando os outros países para trás.
Um dos assuntos mais importantes discutidos na IV Cúpula tem a ver com a reforma da chamada ‘governança global’. Os países membros acordaram que existe a necessidade de imediata alteração das regras do jogo no Fundo Monetário Internacional, no Banco Mundial e no comércio mundial em geral. Entendem que não é mais possível que as mais importantes instituições financeiras mundiais continuem sendo controladas quase que exclusivamente por europeus e norte-americanos, sobretudo num cenário em que as economias desses países apresentam um quadro de crise que tende a espalhar instabilidade para os mercados financeiros.
Mas as discussões em Nova Déli não ficaram restritas a temas essencialmente econômicos. Discutiu-se, por exemplo, segurança alimentar e energética, mudança climática e crescimento com inclusão social, erradicação da pobreza e cooperação. A agenda é bem variada e contempla os interesses de todos os membros.
Na perspectiva brasileira é importante uma ação concertada porque ela pode pavimentar o caminho para a consecução de diversos objetivos da política externa do país. Do ponto de vista político, o Brasil já conseguiu o apoio dos países membros para a sua aspiração a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em termos econômicos, o Brasil busca um melhor relacionamento bilateral com os países membros e o aumento dos fluxos comerciais, além de batalhar por mudanças econômicas globais que disciplinem melhor os mercados financeiros.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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