Ingerências externas e guerra civil
Pio Penna Filho
A situação
está fora de controle na Síria. O governo não consegue mais dominar partes
importantes do seu território e as ingerências externas são cada vez mais
intensas, o que torna o quadro político ainda mais instável. Do ponto de vista
militar, o governo ainda dispõe de força suficiente para conter o avanço dos
rebeldes, prorrogando o seu previsível fim e prolongando o sofrimento de todos.
Todavia, o
suporte político ao governo que vem do exterior parece diminuir à proporção que
cresce o avanço dos insurgentes e que se amplia a propaganda internacional
contra o regime.
A queda de
Bashar al Assad é uma questão de tempo. Se por um lado é impossível prever com
precisão quando será a sua queda, se em questão de semanas ou meses, por outro
é possível afirmar, sem medo de errar, que o seu fim se aproxima a passos
largos.
No plano
externo os aliados que restaram do governo sírio estão sofrendo uma pressão
crescente da comunidade internacional. São poucos os países que ainda apoiam, de
alguma forma, o governo de Assad. Dentre eles se destaca a Rússia, aliada há
décadas da Síria na geopolítica do Oriente Médio. Outros dois países de
destaque são a China e o Irã. Essa tríade atua por interesses próprios que nem
sempre convergem, ou seja, não há um único argumento que justifique a sua
atuação.
De toda forma,
é um apoio nada desprezível e muito eficaz. A China e a Rússia são membros
plenos com direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas e até
agora bloquearam todas as tentativas de impor sanções ou autorizar o uso
oficial da força contra Damasco. Aliás, a título de exemplo, o uso da força foi
decisivo para o fim do regime de Kaddafi na Líbia. Já o Irã mantem suporte
material e de tropas especiais em território sírio, auxiliando, mesmo que
modestamente, o esforço do governo para tentar controlar a insurgência.
Mas no
exterior existe também uma considerável rede de apoio aos rebeldes sírios. Estados
Unidos, os membros da União Europeia, Catar, Arábia Saudita e Turquia são
aqueles que mais se destacam. Ninguém faz guerra sem dinheiro e sem armas e
todo o arsenal que vem sendo utilizado pelos insurgentes sírios não foi
conseguido apenas tomando esses recursos do Exército. Armas, munição, dinheiro
e assistência técnica “especializada” foram enviados de fora para a Síria.
Os Estados
Unidos, mesmo que discretamente, estão particularmente envolvidos na política
síria e desejam, confessadamente, a queda de Assad. Há fortes evidências da
atuação da CIA na Síria e o governo americano já disponibilizou cerca de 20
milhões de dólares para os rebeldes. Vale destacar, porém, que esse valor é
irrisório diante do que está por vir.
A Síria é um
país complexo e a transição de poder não será nada fácil. Algumas diferenças
étnicas e religiosas estão sendo acentuadas diante do quadro de guerra civil e
será muito complicado qualquer arranjo político razoável no imediato pós-guerra.
Do ponto de
vista militar, outra enorme preocupação é o que acontecerá com as armas
químicas do país. Existe o temor de que o governo repasse pelo menos parte do
seu arsenal para o Hezbollah, o que para Israel é intolerável e por demais
ameaçador. Infelizmente o conflito na Síria ainda está longe do fim.
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Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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