Confira a correção do vestibular
UFU 2012/2
SOCIOLOGIA
PRIMEIRA QUESTÃO
Somos a primeira geração de
pessoas que existem numa escala global. Homens e mulheres, políticos, drogados, modelos, executivos,
prostituídos, terroristas, vítimas de
catástrofes transmitidas pela TV, cozinheiros, consumidores, telespectadores, internautas, imigrantes, turistas;
somos a primeira geração global. [...] Nossa
geração está inventando o mundo, o primeiro mundo verdadeiramente mundial.
LEVY, Pierre. A conexão
planetária: o mercado, o ciberespaço e a consciência. São Paulo: Editora 34, 2001, p. 17.
Algumas pesquisas revelam cerca de 200 milhões de pessoas em
movimento pelo mundo. Essas pessoas evidenciam necessidades, oposições, racismos,
solidariedades e semelhanças.
Diante disso, faça o que se pede.
A) Os racismos e preconceitos
estabelecidos no século XXI são diferentes daqueles vividos na primeira metade do século XX. Apresente
pelo menos duas características que os distinguem.
B) Estabeleça pelo menos três
características sociais e políticas que diferenciam os movimentos populacionais do final
do século XX e início do século XXI
daqueles que modificaram as estruturas sociais
do Brasil no final do século XIX.
SUGESTÃO DE RESPOSTAS
A)
─ A interação com outras culturas
é muito mais intensa e mais viva, acarretando maior tolerância.
─ As políticas de branqueamento
da raça e de miscigenação não estão mais presentes, como estiveram na Europa no
período das guerras mundiais.
─ As competições por postos nos
mercados mundiais criam um preconceito mais ligado as relações intelectuais e
de competência laboral, que diferem do preconceito
racial do início do século XX.
B)
─ No final do século XX e início
do XXI, há um maior peso da aplicação da ciência e da tecnologia sobre as
forças produtivas, enquanto no século
XIX estava mais atrelado à força física. O domínio do conhecimento pode definir as vantagens no mercado
competitivo. O conhecimento converteu-se em capital cultural, indicador de desenvolvimento
humano e, cada vez mais, em instrumento de poder.
─ Desenraizamento humano oriundo
do esfacelamento das referências familiares, nacionais, culturais e
identitárias, que difere do final do século XIX, quando o mito do retorno era
uma esperança muito clara quando fossem sanados os problemas nos países de
origem. Atualmente, muitos deixam países do grande eixo para imigrar.
─ A expansão das grandes empresas
que, a partir da sua base nacional, implantaram filiais no exterior com base em
procedimentos organizacionais e estratégias competitivas concebidas em escala
mundial. (fusões e incorporações, investimentos cruzados, terceirização de
fases da produção)
─ A intensificação do capitalismo
reacendeu os fundamentalismos, os consumismos (de mercadorias, drogas, apatia).
─ A exclusão digital ou o
analfabetismo funcional colabora para a reafirmação da exclusão social.
─ O Estado não mais atua como
motor do desenvolvimento e investimento, como se apostou no final do XIX e
início do século XX. O atendimento de necessidades básicas (educação, habitação, saúde, seguridade
social, meio ambiente e segurança
pública) acha-se comprometido graças aos
problemas administrativos, opções políticas e à aceitação dos padrões
ditados pelos países hegemônicos.
SEGUNDA QUESTÃO
Não há vagas
O preço do feijão / não cabe no
poema. O preço/ do arroz/ não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás/ a luz o
telefone/ a sonegação/ do leite/ da carne/ do açúcar / do pão / O funcionário público/ não
cabe no poema/ com seu salário de fome/ sua
vida fechada/ em arquivos./ Como não cabe no poema / o operário/ que esmerilha seu dia de aço/ e carvão / nas
oficinas escuras/ - porque o poema, senhores,/ está fechado:/ "não há vagas"/ Só
cabe no poema/ o homem sem estômago/ a
mulher de nuvens/ a fruta sem preço/ O poema, senhores, /não fede/ nem cheira
GULLAR, Ferreira. Não há vagas. In:
Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 224.
Ferreira Gullar é um poeta
brasileiro que se destacou, entre outras coisas, por ter dado engajamento à sua poesia. Os versos acima fazem uma dura crítica a um
tipo de sociedade. Essa
crítica assemelha-se àquela que Marx fez ao idealismo hegeliano, que sugere a superação do modo de produção
capitalista, por meio do método do materialismo histórico e dialético.
Sintetize a crítica marxiana ao
hegelianismo, utilizando, para tanto, o método de Marx e o poema de Gullar. Discorra sobre, pelo
menos, cinco aspectos.
SUGESTÃO DE RESPOSTA
Reconhecimento da realidade
material / concreta como ponto de partida
da construção de uma alternativa, pois parte-se do salário, da punição, da tortura; reconhecimento das
contradições como motores da transformação,
pois aqueles elementos da realidade opõem quem paga e quem recebe o salário, quem pune e quem é
punido, etc.; reconhecimento da ilusão
como sinônimo de alienação; reconhecimento da construção da superação/da ação por meio do poema; materialismo;
dialética; contradição; exploração; violência
estatal; Estado como expressão da dominação de classe; alienação.
TERCEIRA QUESTÃO
Desde os anos 1970 começaram a
surgir movimentos sociais que já não se baseiam mais exclusivamente nas questões de classe. Associados
à emergência de novos atores sociais, esses
movimentos são pluriclassistas e suprapartidários. Com base nisso, faça o que se pede.
A) Enumere ao menos dois desses
novos atores e movimentos sociais.
B) Discorra sobre, pelo menos, três
críticas que esses novos movimentos sociais fazem à realidade brasileira.
SUGESTÃO DE RESPOSTAS
A)
─ Denúncia do mito da democracia
racial na construção da sociabilidade brasileira.
─ A crítica ao preconceito como
base formativa da sociedade brasileira.
─ A identificação de relações
entre o preconceito racial e a sociedade de classes.
─ A consciência da luta política
organizada para defesa e garantia de direitos.
─ A necessidade de romper com a
tradição formal republicana do antirracismo, propondo “ações afirmativas” em
favor da população afrodescendente.
B)
─ Criminalização dos crimes de
preconceito.
─ Cotas para afrodescendentes nas
universidades e no funcionalismo
público
─ Obrigatoriedade do ensino de
história e cultura africana e afrobrasileira
─ O reconhecimento oficial da
legitimidade de reparações para com a escravidão.
QUARTA QUESTÃO
Nas últimas décadas, o processo
de revolução tecnológica, associado a um movimento de crise do sistema capitalista baseado na grande
indústria e no modelo de organização
taylorista/fordista, fez surgir um novo modelo de organização do trabalho que se convencionou chamar de reestruturação
produtiva. Apresente cinco características desse novo momento da produção capitalista, explicitando
as diferenças em relação ao modelo
taylorista/fordista.
SUGESTÃO DE RESPOSTAS
─ Prática de retirada de capitais
do setor produtivo e seu investimento no
mercado financeiro. No modelo anterior, o capital se investia, sobretudo, no setor produtivo.
─ Associação à informatização e
não só à industrialização.
─ Enorme redução da mão de obra
empregada e aumento dos processos de terceirização; enquanto no
momento anterior a mão de obra era
contratada diretamente e em larga escala pelas indústrias.
─ Fracionamento da produção com a
existência de fábricas menores, em
contraposição à grande indústria.
─ Retirada sistemática de
direitos sociais, pondo em destaque o legado neoliberal; ao passo que no modelo anterior, além
do assistencialismo burguês, refletia
também o momento do Estado de bem-estar social.
─ Exigências de capacitação
profissional, técnica e tecnológica dos trabalhadores, que se tornaram então
polivalentes. No modelo anterior, de produção em série, o trabalhador
era especializado em apenas uma função.
─ Aumento no número de
trabalhadores informais. No modelo anterior, a maioria dos trabalhadores ocupavam um
trabalho formal.
─ Produção em série no modelo
taylorista e produção por lote no novo modelo.
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