Pio Penna Filho
A intervenção dos Estados Unidos e de alguns países europeus membros da OTAN no conflito líbio, associada à dinâmica do próprio conflito, já está trazendo resultados dramáticos para a população civil da Líbia. Não bastasse o sofrimento provocado pelas incertezas e inseguranças resultantes da guerra, agora estamos presenciando uma crise humanitária que tem tudo para se tornar mais e mais grave.
A notícia divulgada nesse fim de semana de que pelo menos 62 refugiados líbios teriam morrido de fome e sede numa embarcação à deriva a caminho da Europa é um sinal de como os europeus estão tratando, e irão tratar daqui para a frente, os refugiados dessa guerra.
A história é dramática porque a tripulação, ou os próprios refugiados, conseguiram fazer contato com militares da OTAN que patrulhavam a área no Mediterrâneo em que se encontrava a embarcação. Pediram um socorro que lhes foi negado e isso custou a vida de dezenas de pessoas. Mais um ato de selvageria e desfaçatez nesse triste período da história da Líbia.
Esse acontecimento nos permite certas reflexões. Em primeiro lugar, o registro de que a vida humana vale muito pouco e é medida pelo local de nascimento. Parece que os direitos humanos só valem como medida de pressão contra regimes considerados inimigos ou indesejados por aqueles que ditam as regras na comunidade internacional. Não fosse assim dificilmente uma pessoa que tem em seu currículo a responsabilidade na manutenção de duas guerras em andamento e mais os horrores de Guantánamo não receberia o prêmio Nobel da paz.
Em segundo lugar, e considerando o episódio como verdadeiro, o que ocorreurevela como os europeus estão dispostos a tratar aqueles que queiram chegar à Europa, mesmo que na esteira de uma crise humanitária. Esse tipo de atitude não é comum nem mesmo em países pobres e com pouca condição de ajudar os mais necessitados. São vários os exemplos registrados em muitos conflitos africanos nos quais os países não recusam o acolhimento de refugiados de guerra. Por mais precária que seja a ajuda, sempre ela ocorre.
É claro que não podemos tomar um fato isolado como regra, mas o aumento das restrições de entrada no espaço europeu demonstram que a União Europeia não está disposta a correr riscos de um grande fluxo de refugiados em seu território, mesmo que tal se dê como consequência de uma crise humanitária.
A ditadura de Muammar Kadafi, é claro, também é diretamente responsável pelo que está ocorrendo. A dura repressão e a violência interna promovem ainda mais insegurança e forçam milhares de pessoas a se dirigirem para outros países em busca de segurança e sobrevivência.
Infelizmente, quem mais perde é a população civil, encurralada por uma guerra repleta de interesses não revelados das grandes potências e pelo apego ao poder de um ditador que há muito perdeu a legitimidade perante o povo líbio, se é que em algum momento ele a teve.
A intervenção dos Estados Unidos e de alguns países europeus membros da OTAN no conflito líbio, associada à dinâmica do próprio conflito, já está trazendo resultados dramáticos para a população civil da Líbia. Não bastasse o sofrimento provocado pelas incertezas e inseguranças resultantes da guerra, agora estamos presenciando uma crise humanitária que tem tudo para se tornar mais e mais grave.
A notícia divulgada nesse fim de semana de que pelo menos 62 refugiados líbios teriam morrido de fome e sede numa embarcação à deriva a caminho da Europa é um sinal de como os europeus estão tratando, e irão tratar daqui para a frente, os refugiados dessa guerra.
A história é dramática porque a tripulação, ou os próprios refugiados, conseguiram fazer contato com militares da OTAN que patrulhavam a área no Mediterrâneo em que se encontrava a embarcação. Pediram um socorro que lhes foi negado e isso custou a vida de dezenas de pessoas. Mais um ato de selvageria e desfaçatez nesse triste período da história da Líbia.
Esse acontecimento nos permite certas reflexões. Em primeiro lugar, o registro de que a vida humana vale muito pouco e é medida pelo local de nascimento. Parece que os direitos humanos só valem como medida de pressão contra regimes considerados inimigos ou indesejados por aqueles que ditam as regras na comunidade internacional. Não fosse assim dificilmente uma pessoa que tem em seu currículo a responsabilidade na manutenção de duas guerras em andamento e mais os horrores de Guantánamo não receberia o prêmio Nobel da paz.
Em segundo lugar, e considerando o episódio como verdadeiro, o que ocorreurevela como os europeus estão dispostos a tratar aqueles que queiram chegar à Europa, mesmo que na esteira de uma crise humanitária. Esse tipo de atitude não é comum nem mesmo em países pobres e com pouca condição de ajudar os mais necessitados. São vários os exemplos registrados em muitos conflitos africanos nos quais os países não recusam o acolhimento de refugiados de guerra. Por mais precária que seja a ajuda, sempre ela ocorre.
É claro que não podemos tomar um fato isolado como regra, mas o aumento das restrições de entrada no espaço europeu demonstram que a União Europeia não está disposta a correr riscos de um grande fluxo de refugiados em seu território, mesmo que tal se dê como consequência de uma crise humanitária.
A ditadura de Muammar Kadafi, é claro, também é diretamente responsável pelo que está ocorrendo. A dura repressão e a violência interna promovem ainda mais insegurança e forçam milhares de pessoas a se dirigirem para outros países em busca de segurança e sobrevivência.
Infelizmente, quem mais perde é a população civil, encurralada por uma guerra repleta de interesses não revelados das grandes potências e pelo apego ao poder de um ditador que há muito perdeu a legitimidade perante o povo líbio, se é que em algum momento ele a teve.
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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