Novo livro de Mary Del Priore
desmistifica relação entre princesa Isabel e conde d'Eu
Ele, um membro da Casa da França,
criado na Grã-Bretanha e frequentador das rodas aristocráticas europeias. Ela, filha
do imperador do Brasil, então um distante reino de hábitos rudes.
"O Castelo de Papel", novo
livro da historiadora Mary Del Priore, 60, investiga o momento de transformação
do Brasil de monarquia a república através do olhar do casal formado pela
princesa Isabel e pelo conde d'Eu.
De origens distintas, ambos
assumiram uma cumplicidade amorosa, porém assustada, diante da aceleração dos
fatos, ao encarar o modo como a jovem sociedade brasileira se encaminhava para
a modernidade republicana.
Reprodução
A princesa Isabel e o conde d'Eu,
em retrato de 1864
Baseado em documentos do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do Museu Imperial e em
jornais da época, o trabalho desmistifica aspectos da historiografia oficial em
relação à princesa e ao conde.
A principal fonte foi a
correspondência entre o conde d'Eu e seu pai, Luís Carlos Filipe Rafael d'Orléans,
duque de Némours.
As cartas revelam uma Isabel
diferente. Enquanto a historiografia clássica solidificou a imagem dela como
uma figura progressista, amplamente abolicionista e ambiciosa, os documentos a
mostram bem menos "revolucionária".
Era uma mulher recatada, dedicada
à jardinagem, à família, à religião, até com certo preconceito com relação aos
escravos --que terminaria por libertar por meio da Lei Áurea, em 1888.
"Seu olhar é o de uma dona
de casa, que se importava com regimes e com o conforto dos filhos", diz
Mary, para quem o contexto de fragilidade monárquica determinou a decisão da
princesa de estar do lado dos abolicionistas.
A historiadora posiciona-se
contra campanha para "canonizar" a princesa. "Ter abandonado o
abolicionista André Rebouças, que a acompanha no exílio e morre sozinho, ou o
sobrinho, Pedro Augusto, que vai parar num sanatório psiquiátrico, são amostras
de que não se tratava de alguém tão generoso assim."
As cartas demonstram ainda uma
preocupação crescente do duque de Némours quanto ao destino do filho com o fim
da monarquia.
O conde d'Eu havia renunciado a
seu lugar na aristocracia europeia para viver no que então se considerava ainda
um mundo quase selvagem. O duque de Némours acabaria bancando o filho durante a
ruína financeira dele, assim como fez com dom Pedro 2º.
"Tido como um personagem
secundário na família real, o conde d'Eu surge nas cartas muito mais ativo, buscando
mais protagonismo e chocando-se com a personalidade misteriosa e triste do
imperador", diz Mary.
Fonte: Folha de São Paulo
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