quinta-feira, 19 de julho de 2012

Pio Penna Filho comenta a cooperação técnica Brasil-Moçambique


Cooperação com Moçambique
 
Pio Penna Filho
        

         Se aproxima a data de inauguração da Sociedade Moçambicana de Medicamentos, que está prevista para ocorrer no próximo sábado, dia 21. A Sociedade será a primeira fábrica de remédios antirretrovirais em Moçambique e certamente irá melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas no país e em outras partes da África. Fruto de uma iniciativa de cooperação entre o Brasil e Moçambique que remonta a 2003, portanto, ainda no primeiro governo Lula, a Sociedade Moçambicana de Medicamentos é uma notícia alvissareira e que deve ser comemorada por todos.
 
         A fábrica foi parcialmente financiada pelo governo brasileiro, que prevê um investimento total de cerca de 21 milhões de dólares no empreendimento. Além dos recursos financeiros, o Brasil foi o responsável pelos estudos de viabilidade técnica e econômica, pela transferência de tecnologia em todo o processo de fabricação de medicamentos e pela capacitação para o gerenciamento da nova unidade produtiva.
        Moçambique é um dos países mais afetados pela epidemia de AIDS no mundo (está entre os dez mais afetados) e a possibilidade de produzir medicamentos antirretrovirais fará uma enorme diferença para o tratamento da população infectada. Mas o objetivo não é apenas produzir remédios para a AIDS. Após a conclusão das fases iniciais do empreendimento e quando a produção estiver a pleno vapor, a fábrica terá capacidade para produzir pelo menos 21 tipos de remédios, que vão de anti-inflamatórios aos usados no tratamento de tuberculose, malária, hipertensão e diabetes tipo 2.
        Não apenas os moçambicanos irão se beneficiar com a nova fábrica. Segundo Lícia de Oliveira, Diretora Adjunta do Escritório Regional da Fiocruz em África e Coordenadora do Projeto de Implementação da Fábrica de Medicamentos em Moçambique,  a unidade industrial contará com capacidade instalada para produzir 226 milhões de unidades farmacêuticas de antirretrovirais e 145 milhões de unidades farmacêuticas de multiprodutos, isso para uma jornada de 8 horas diárias.
        Se considerarmos que se pode acrescentar mais dois turnos, então teremos a produção aumentada a ponto de facilmente superar a demanda exclusivamente moçambicana. Possivelmente, os países mais beneficiados seriam os mais próximos a Moçambique, mas nada impede uma exportação mais ampliada para outras partes do continente africano.
          De toda forma, o mais importante é que a fábrica é um projeto de extrema relevância que está prestes a se concretizar. A expectativa gerada com o anúncio da parceria foi muito grande e havia, de fato, uma preocupação com a demora na concretização do empreendimento, uma vez que os dois governos, sobretudo o brasileiro, já faziam propaganda da construção da fábrica desde praticamente o início do processo, em 2003.
        O Brasil tem ampliado a cooperação com vários países africanos e isso é muito positivo para a imagem do país no exterior. No caso da saúde, vale lembrar que além do empenho do Itamaraty, houve também a decisiva atuação do Ministério da Saúde e o empenho tanto do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) e da Fiocruz, que juntos conseguiram levar adiante tão importante projeto.
 
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Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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