Cooperação com Moçambique
Pio Penna Filho
Se aproxima a data de inauguração
da Sociedade Moçambicana de Medicamentos, que está prevista para ocorrer no
próximo sábado, dia 21. A
Sociedade será a primeira fábrica de remédios antirretrovirais em Moçambique e
certamente irá melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas no país e em
outras partes da África. Fruto de uma iniciativa de cooperação entre o Brasil e
Moçambique que remonta a 2003, portanto, ainda no primeiro governo Lula, a
Sociedade Moçambicana de Medicamentos é uma notícia alvissareira e que deve ser
comemorada por todos.
A fábrica foi parcialmente
financiada pelo governo brasileiro, que prevê um investimento total de cerca de
21 milhões de dólares no empreendimento. Além dos recursos financeiros, o
Brasil foi o responsável pelos estudos de viabilidade técnica e econômica, pela
transferência de tecnologia em todo o processo de fabricação de medicamentos e
pela capacitação para o gerenciamento da nova unidade produtiva.
Moçambique é um dos países mais
afetados pela epidemia de AIDS no mundo (está entre os dez mais afetados) e a
possibilidade de produzir medicamentos antirretrovirais fará uma enorme
diferença para o tratamento da população infectada. Mas o objetivo não é apenas
produzir remédios para a AIDS. Após a conclusão das fases iniciais do
empreendimento e quando a produção estiver a pleno vapor, a fábrica terá
capacidade para produzir pelo menos 21 tipos de remédios, que vão de anti-inflamatórios
aos usados no tratamento de tuberculose, malária, hipertensão e diabetes tipo 2.
Não apenas os moçambicanos irão
se beneficiar com a nova fábrica. Segundo Lícia de Oliveira, Diretora Adjunta
do Escritório Regional da Fiocruz em África e Coordenadora do Projeto de
Implementação da Fábrica de Medicamentos em Moçambique, a unidade industrial contará com capacidade
instalada para produzir 226 milhões de unidades farmacêuticas de
antirretrovirais e 145 milhões de unidades farmacêuticas de multiprodutos, isso
para uma jornada de 8 horas diárias.
Se considerarmos que se pode
acrescentar mais dois turnos, então teremos a produção aumentada a ponto de
facilmente superar a demanda exclusivamente moçambicana. Possivelmente, os
países mais beneficiados seriam os mais próximos a Moçambique, mas nada impede
uma exportação mais ampliada para outras partes do continente africano.
De toda forma, o mais importante
é que a fábrica é um projeto de extrema relevância que está prestes a se
concretizar. A expectativa gerada com o anúncio da parceria foi muito grande e
havia, de fato, uma preocupação com a demora na concretização do empreendimento,
uma vez que os dois governos, sobretudo o brasileiro, já faziam propaganda da
construção da fábrica desde praticamente o início do processo, em 2003.
O Brasil tem ampliado a
cooperação com vários países africanos e isso é muito positivo para a imagem do
país no exterior. No caso da saúde, vale lembrar que além do empenho do
Itamaraty, houve também a decisiva atuação do Ministério da Saúde e o empenho
tanto do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) e da Fiocruz, que
juntos conseguiram levar adiante tão importante projeto.
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Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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