O Que Querem os Estudantes Chilenos
Pio Penna Filho*
A resposta à pergunta que serve de título para este artigo é simples: melhores condições de ensino. Cansados de um modelo de educação cada vez mais excludente, desigual e de qualidade duvidosa, os estudantes chilenos voltam às ruas com um vigor e uma determinação há muito não vistos nas ruas das principais cidades sul-americanas.
O Chile é, geralmente, citado como um país que deu certo e que continua dando certo, mesmo seguindo um modelo neoliberal e destoando da maior parte do conjunto latino-americano. Aliás, é bom lembrar que muitos liberais brasileiros veem com bons olhos os caminhos políticos e econômicos seguidos pelo Chile pelo menos desde o golpe militar que levou Pinochet ao poder (utilizo o termo “liberais” consciente da dificuldade de uma definição clara e concreta do que seja, de fato, um liberal, pelo menos em sua prática política no nosso país).
Há muito mito em torno do sucesso econômico do Chile. É, porém, certo que o país continuou crescendo e que a sua estabilidade política e econômica é relativamente maior do que a dos seus vizinhos. E também não resta dúvida que muitos progressos foram feitos em termos de inclusão social nos governos que sucederam a ditadura militar, mas daí olharmos para o “vizinho” como um caso exemplar a ser seguido como modelo vai uma distância enorme.
Existem muitas contradições sociais no Chile e o que os estudantes estão fazendo, em massa, é revelar isso ao mundo. Entre eles, a insatisfação é ampla, indo do ensino secundário ao universitário. Não se trata apenas de manifestações de descontentamento localizadas apenas num determinado nível de ensino. A insatisfação e a desconfiança com relação ao Estado e aos políticos, no geral, é ampla.
Dentre as reivindicações estudantis que ganharam mais destaque citamos o aumento de recursos públicos para a educação (que pelo menos 7% do PIB seja destinado ao setor), o fim da municipalização e a contenção da privatização do ensino. O que os estudantes desejam, na verdade, é um novo paradigma que fortaleça o ensino público e redefina o caráter geral da educação no Chile, enfatizando o princípio constitucional do direito social e universal do acesso à educação, sem diferenciações sociais.
Ao analisar o caso chileno, observamos que houve uma escalada no processo de privatização do ensino bancada, em grande medida, por recursos públicos que financiam o lucrativo setor da educação. Lá, as escolas e universidades são pagas, tanto as públicas quanto as privadas, seja por meio de taxas escolares ou mensalidades.
No caso das universidades, quando o estudante termina a sua graduação ele leva junto com o diploma uma dívida que tende a aumentar consideravelmente por conta dos juros cobrados pelo sistema financeiro. Essa é apenas uma das consequências amargas da privatização do ensino.
As manifestações estudantis chilenas são um sinal de que ainda existem setores organizados da sociedade que não aceitam modelos excludentes que agem quase que exclusivamente de acordo com as leis do mercado. Os estudantes, pelo menos por lá, mostram que querem uma sociedade diferente, mais inclusiva, democrática e cidadã.
Pio Penna Filho*
A resposta à pergunta que serve de título para este artigo é simples: melhores condições de ensino. Cansados de um modelo de educação cada vez mais excludente, desigual e de qualidade duvidosa, os estudantes chilenos voltam às ruas com um vigor e uma determinação há muito não vistos nas ruas das principais cidades sul-americanas.
O Chile é, geralmente, citado como um país que deu certo e que continua dando certo, mesmo seguindo um modelo neoliberal e destoando da maior parte do conjunto latino-americano. Aliás, é bom lembrar que muitos liberais brasileiros veem com bons olhos os caminhos políticos e econômicos seguidos pelo Chile pelo menos desde o golpe militar que levou Pinochet ao poder (utilizo o termo “liberais” consciente da dificuldade de uma definição clara e concreta do que seja, de fato, um liberal, pelo menos em sua prática política no nosso país).
Há muito mito em torno do sucesso econômico do Chile. É, porém, certo que o país continuou crescendo e que a sua estabilidade política e econômica é relativamente maior do que a dos seus vizinhos. E também não resta dúvida que muitos progressos foram feitos em termos de inclusão social nos governos que sucederam a ditadura militar, mas daí olharmos para o “vizinho” como um caso exemplar a ser seguido como modelo vai uma distância enorme.
Existem muitas contradições sociais no Chile e o que os estudantes estão fazendo, em massa, é revelar isso ao mundo. Entre eles, a insatisfação é ampla, indo do ensino secundário ao universitário. Não se trata apenas de manifestações de descontentamento localizadas apenas num determinado nível de ensino. A insatisfação e a desconfiança com relação ao Estado e aos políticos, no geral, é ampla.
Dentre as reivindicações estudantis que ganharam mais destaque citamos o aumento de recursos públicos para a educação (que pelo menos 7% do PIB seja destinado ao setor), o fim da municipalização e a contenção da privatização do ensino. O que os estudantes desejam, na verdade, é um novo paradigma que fortaleça o ensino público e redefina o caráter geral da educação no Chile, enfatizando o princípio constitucional do direito social e universal do acesso à educação, sem diferenciações sociais.
Ao analisar o caso chileno, observamos que houve uma escalada no processo de privatização do ensino bancada, em grande medida, por recursos públicos que financiam o lucrativo setor da educação. Lá, as escolas e universidades são pagas, tanto as públicas quanto as privadas, seja por meio de taxas escolares ou mensalidades.
No caso das universidades, quando o estudante termina a sua graduação ele leva junto com o diploma uma dívida que tende a aumentar consideravelmente por conta dos juros cobrados pelo sistema financeiro. Essa é apenas uma das consequências amargas da privatização do ensino.
As manifestações estudantis chilenas são um sinal de que ainda existem setores organizados da sociedade que não aceitam modelos excludentes que agem quase que exclusivamente de acordo com as leis do mercado. Os estudantes, pelo menos por lá, mostram que querem uma sociedade diferente, mais inclusiva, democrática e cidadã.
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