Pio Penna Filho
O anúncio da eliminação de Osama Bin Laden por comandos norte-americanos atuando no Paquistão foi o fato da semana na política internacional. Esse era um objetivo perseguido pelos Estados Unidos desde os atentados terroristas de 2001, portanto, não foi nada surpreendente a comemoração do assassinato do líder da temível Al Qaeda.
Muito se especula sobre o que acontecerá de agora em diante. Até que ponto a organização terrorista será afetada pelo desaparecimento de seu líder e membro mais proeminente? Os terroristas se intimidarão ou o efeito provocado será o de promover ainda mais violência? Até que ponto tal fato modificará a política externa dos Estados Unidos no Afeganistão e no chamado combate ao terror?
São muitos os possíveis cenários que podemos vislumbrar com relação ao futuro do terrorismo como forma de luta política e expressão do radicalismo. Nada sugere, por ora, que a eliminação de Bin Laden irá arrefecer o ímpeto dos movimentos radicais que se insurgiram contra as tradicionais potências ocidentais.
O chamado terrorismo internacional nunca esteve amparado exclusivamente em bases pessoais, ou seja, o desaparecimento de um líder, por mais proeminente que ele seja, não tem capacidade de conter essa modalidade de ativismo político, vista por muitos como a única forma possível de resistir à opressão desencadeada em nome dos interesses das grandes potências ocidentais.
Aliás, é importante ressaltar que não faltam motivações para que muitas pessoas se juntem a esses movimentos radicais. Em parte, eles podem ser vistos como consequência das violentas e também radicais ações políticas e militares que são levadas a efeito por países ocidentais, especialmente pelos Estados Unidos da América, em países como o Iraque, o Afeganistão e o Paquistão.
Ora, não é de hoje que esses países e, portanto, suas populações, são fustigadas impiedosamente por ações militares muitas vezes sem sentido, que atingem alvos não militares e massacram os civis. Essas pessoas, independente do credo que professam, são vítimas da violência e é até natural que parte delas se revolte e assuma posições radicais, muitas vezes com o envolvimento em células terroristas. Elas tem, na verdade, muito pouco a perder.
Quero dizer com isso, com todas as letras, que violência gera violência e que não será apenas eliminando líderes radicais como Osama Bin Laden que as coisas mudarão. Enquanto persistir essa política de força e opressão, e que em muito lembra o imperialismo e o colonialismo típicos do século XIX e início do XX, as relações entre partes do mundo islâmico e partes do chamado Ocidente continuarão marcadas por muito sangue e sofrimento.
Um dos cenários mais prováveis e dado como quase certo por muitos analistas internacionais é que a Al Qaeda ou outros grupos radicais irão revidar contra os Estados Unidos, renovando o ciclo de violência. Assim, infelizmente, a intolerância persistirá e o encaminhamento da paz e da harmonia entre as nações seguirá sendo um sonho adiado, lançado como um desafio para as gerações futuras.
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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