Os Brics na África
Pio Penna Filho
Os Brics (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul) se reuniram essa semana em Durban, África
do Sul, para mais um encontro de cúpula. Essa foi a quinta cúpula e um dos
assuntos mais importantes girou em torno crise econômica internacional. Outros
temas, além dos tradicionais (promoção do desenvolvimento inclusivo e
sustentável, reforma da governança global, segurança e estabilidade mundial) também
foram contemplados, como a colaboração em setores da segurança informativa, combate
ao tráfico de drogas e financiamento de projetos de infraestrutura em países
africanos.
Os países membros
do Brics continuam se destacando na economia internacional. A média de
crescimento dos cinco membros foi, em 2012, de 4%, o que significa que suas
economias, tomadas em conjunto, cresceram cinco vezes mais que o grupo do G7 (Estados
Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Japão, Canadá e Itália). Além disso, o
grupo foi responsável por 21% do Produto Interno Bruto mundial, o que não é
pouco.
A decisão que
ganhou maior divulgação na mídia foi a da criação do Banco de Desenvolvimento
do Brics. A ideia é que a nova instituição possa promover projetos de
desenvolvimento que atendam as expectativas dos países membros, atuando em
paralelo a outras instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional.
Ainda não há
consenso absoluto em torno de como estruturar o Banco e qual o valor total do
seu capital, que está estimado, por enquanto, em 50 bilhões de dólares. Pelo
que foi divulgado, a Rússia é o país que está destoando do grupo nesse assunto,
embora a sua delegação tenha enfatizado ser favorável à criação da nova
instituição.
Outro assunto
que merece destaque foi a decisão dos países membros de investirem mais no
continente africano. Para a África do Sul e para os demais países africanos, essa
é um notícia alvissareira. Se, de fato, os Brics ampliarem os investimentos na
África isso poderá levar a uma expansão da infraestrutura em partes do
continente africano e a ampliação do seus fluxos comerciais com outros países.
Apesar dos benefícios para a
África que serão proporcionados pelos novos investimentos que virão, é preciso
que os dirigentes africanos reflitam e pesem os prós e contras dessas futuras
inversões. O problema, nesse caso, reside no fato de que se esses investimentos
tiverem o único objetivo de explorar os recursos naturais africanos, eles não
significarão nada de novo quando comparados com os investimentos predatórios
das antigas metrópoles coloniais. Assim, os africanos tem um dilema pela frente.
Num balanço
geral dessa última cúpula registram-se avanços políticos notáveis, sendo o mais
importante a decisão da criação do Banco de Desenvolvimento, que aliás já vinha
sendo discutida desde o ano passado.
Essa é uma boa
ideia que, se vingar, poderá ajudar os países emergentes em seus projetos de
desenvolvimento, dotando-os de um mecanismo independente dos tradicionais Banco
Mundial e Fundo Monetário Internacional, ainda hoje controlados de forma um
tanto desproporcional pelos países desenvolvidos.
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Professor
do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e
Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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