quinta-feira, 28 de março de 2013

Confira o artigo do Professor Pio Penna Filho sobre a reunião do BRICS



Os Brics na África
                                                                               Pio Penna Filho

Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se reuniram essa semana em Durban, África do Sul, para mais um encontro de cúpula. Essa foi a quinta cúpula e um dos assuntos mais importantes girou em torno crise econômica internacional. Outros temas, além dos tradicionais (promoção do desenvolvimento inclusivo e sustentável, reforma da governança global, segurança e estabilidade mundial) também foram contemplados, como a colaboração em setores da segurança informativa, combate ao tráfico de drogas e financiamento de projetos de infraestrutura em países africanos.
 Brics summit leaders
Os países membros do Brics continuam se destacando na economia internacional. A média de crescimento dos cinco membros foi, em 2012, de 4%, o que significa que suas economias, tomadas em conjunto, cresceram cinco vezes mais que o grupo do G7 (Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Japão, Canadá e Itália). Além disso, o grupo foi responsável por 21% do Produto Interno Bruto mundial, o que não é pouco.
A decisão que ganhou maior divulgação na mídia foi a da criação do Banco de Desenvolvimento do Brics. A ideia é que a nova instituição possa promover projetos de desenvolvimento que atendam as expectativas dos países membros, atuando em paralelo a outras instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
Ainda não há consenso absoluto em torno de como estruturar o Banco e qual o valor total do seu capital, que está estimado, por enquanto, em 50 bilhões de dólares. Pelo que foi divulgado, a Rússia é o país que está destoando do grupo nesse assunto, embora a sua delegação tenha enfatizado ser favorável à criação da nova instituição.
Outro assunto que merece destaque foi a decisão dos países membros de investirem mais no continente africano. Para a África do Sul e para os demais países africanos, essa é um notícia alvissareira. Se, de fato, os Brics ampliarem os investimentos na África isso poderá levar a uma expansão da infraestrutura em partes do continente africano e a ampliação do seus fluxos comerciais com outros países.
Apesar dos benefícios para a África que serão proporcionados pelos novos investimentos que virão, é preciso que os dirigentes africanos reflitam e pesem os prós e contras dessas futuras inversões. O problema, nesse caso, reside no fato de que se esses investimentos tiverem o único objetivo de explorar os recursos naturais africanos, eles não significarão nada de novo quando comparados com os investimentos predatórios das antigas metrópoles coloniais. Assim, os africanos tem um dilema pela frente.
Num balanço geral dessa última cúpula registram-se avanços políticos notáveis, sendo o mais importante a decisão da criação do Banco de Desenvolvimento, que aliás já vinha sendo discutida desde o ano passado.
Essa é uma boa ideia que, se vingar, poderá ajudar os países emergentes em seus projetos de desenvolvimento, dotando-os de um mecanismo independente dos tradicionais Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, ainda hoje controlados de forma um tanto desproporcional pelos países desenvolvidos.

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Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com



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