História que retrata a realidade
de uma criança num processo de experiência cientifica de estudos sociais, onde
o principal personagem tem sua vida modificada pela educação.
A desastrosa política do menor no
Brasil desde os anos 70 é posta em foco neste filme de Luiz Villaça ("Por
Trás do Pano", "Cristina Quer Casar"), fixando-se na
impressionante biografia de Roberto Carlos Ramos, uma rara história de um
ex-menor de rua com final feliz. O filme entra em circuito nacional.
Em "O Contador de Histórias",
a pedagoga francesa Margherite Duvas (Maria de Medeiros) fica amiga de Roberto
(Paulinho Mendes)
Nascido nos anos 1970 em Belo
Horizonte, Roberto era o caçula de uma família pobre com muitos filhos.
Entregue à Febem (Fundação para o Bem-Estar do Menor) pela mãe, pessoa simples
e ignorante que acreditava que ele teria um futuro melhor ali dentro, ele encarou
o abandono e a violência, que no seu caso incluiu espancamentos, detenção em
solitária e até estupro.
Analfabeto até os 13 anos,
Roberto escapou deste quase sempre invencível círculo vicioso devido à
intervenção de uma pedagoga francesa, Margherite Duvas (a atriz portuguesa
Maria de Medeiros, de "O Xangô de Baker Street").
Graças a ela, estudou e conseguiu
tornar-se, anos depois, um contador de histórias conhecido internacionalmente.
Imitando a generosidade de sua protetora, ele mesmo adotou mais de 20 meninos -
alguns que, como ele, já haviam sido tachados de "irrecuperáveis".
Os três garotos que interpretam o
protagonista - Marco Antônio Ribeiro, Paulinho Mendes e Cleiton Santos -
dividiram o troféu de melhor ator no Festival de Paulínia 2009, onde o filme
também ganhou um Prêmio Especial do Júri.
Pontuada de incidentes trágicos
mas também engraçados, a biografia de Ramos sofreu diversas adaptações neste
roteiro, escrito por quatro profissionais - além do diretor Villaça, também
José Roberto Torero, Maurício Arruda e Mariana Verissimo.
Condensa, por exemplo, num único
personagem, a pedagoga Pérola (Malu Galli, da minissérie de TV "Queridos
Amigos"), a figura de diversas outras educadoras que passaram pela vida do
menino, no período em que entrava e saía da Febem.
Apesar disso, "O Contador de
Histórias" incorpora também um elemento documental ao inserir a narração
em off do próprio protagonista e em sua aparição, na sequência final.
Um traço que alivia a narrativa é
materializar as fantasias do menino - que são muitas e extremamente
imaginativas - com o uso de animação e de recursos como música e figurino. Isto
acontece, por exemplo, numa cena de assalto a banco em que os ladrões se vestem
no estilo do grupo Jackson Five, ao som da música "Sá Marina", na voz
de Wilson Simonal, recuperando também o clima dos anos 70.
Eventualmente, se pode ter a
sensação em alguns momentos de que o comportamento da pedagoga é um tanto
ingênuo - como na sequência em que um menor perigoso (Shady's Victor) entra em
sua casa. Mas é importante lembrar que, além de estrangeira, vinda portanto de
outra cultura, a história se passa há cerca de 30 anos. Por conta da
inoperância das políticas para o menor no Brasil, infelizmente, a violência e
criminalidade neste setor têm crescido de modo trágico.
Tal como aconteceu a Ramos, o
filme começou a mudar a vida também de pelo menos um de seus atores-mirins, que
nele estrearam. Paulinho Mendes, que o interpreta aos 13 anos, foi convidado a
um estágio de atuação de seis meses no Grupo Galpão, de Belo Horizonte.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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