O Brasil e os Cenários Futuros
Pio Penna Filho
A construção
de cenários é um exercício que os
internacionalistas aprendem a fazer desde a faculdade e que os historiadores
praticamente abominam. De toda forma, é um exercício que tem lá o seu valor e
que é, no mínimo, muito interessante. É uma forma de tentar se antecipar ao
futuro, desvendando-o para uma ação preventiva.
Cenários
prospectivos são elaborados a partir de tendências contemporâneas que indicam
determinados rumos ou desdobramentos que podem ou não se concretizar. É quase
um exercício de futurologia e, portanto, o grau de incerteza com relação ao
seus resultado é muito grande.
De toda forma,
é um método válido não apenas para a ação empresarial. Quando pensamos em
termos de política internacional, elaborar cenários prospectivos nos ajuda a
definir metas e atuar tendo em mente determinados objetivos. Por exemplo,
pensar a economia e a política mundial daqui a 30 anos pode ajudar os
formuladores de política externa a preparar melhor a inserção internacional do
seu país.
O Conselho
Nacional de Inteligência dos Estados Unidos é uma das instituições afeitas à
construção de cenários prospectivos. Em um recente estudo dessa natureza, o
Conselho prevê um cenário em que o Brasil permanecerá sendo o líder em
desenvolvimento econômico da América Latina, à frente das economias do México e
da Colômbia, que poderiam, na visão do Conselho, rivalizar ou competir com a
brasileira. Para a construção desse cenário, os analistas americanos descartam,
naturalmente, a possibilidade de retomada vigorosa do crescimento da economia
argentina.
Outro
resultado da mesma análise prevê que o crescimento chinês elevará a economia do
país ao topo do ranking mundial, superando os Estados Unidos como principal
potência econômica de todo o planeta. Aliás, não apenas a China continuará
crescendo na Ásia. A Índia vem em logo em seguida, com o entorno regional
participando e sendo beneficiado por esse ciclo de crescimento.
Isso levará a
um gradativo deslocamento do centro mais dinâmico da economia para o continente
asiático, aumentando também o papel desempenhado pelos países da região na
política internacional. Vale registrar que esse tipo de previsão não é novo.
Desde o final da década de 1980 e início dos anos 1990, analistas
internacionais já indicavam essa tendência.
O que há de
mais recente é a constatação de que o número de países emergentes está
crescendo, indo além dos tradicionalmente reconhecidos como tal, que seriam
Rússia, China, Índia e Brasil. Verifica-se agora a incorporação no grupo de
emergentes da África do Sul, Turquia, Coréia do Sul, Indonésia, México,
Colômbia e Nigéria.
Ademais, é interessante notar que
há um movimento convergente que registra ao mesmo tempo a ascensão desses
países e uma queda no crescimento, que em alguns casos chega a ser mesmo uma
regressão, de economias do núcleo tradicional, que envolve basicamente países
europeus e o Japão.
O fato de o
Brasil constar como uma aposta do futuro não é garantia de que o país seguirá
crescendo a ponto de se destacar na economia global. Todavia, as tendências
atuais nos concedem evidências muito fortes que, de fato, teremos um papel diferenciado
na política internacional das próximas décadas. Isso já é motivo suficiente
para que comecemos a nos preparar com mais seriedade para o futuro.
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Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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