quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Artigo de Pio Penna Filho




O Brasil e os Cenários Futuros

                                                                                   Pio Penna Filho
  
     A construção de cenários é um  exercício que os internacionalistas aprendem a fazer desde a faculdade e que os historiadores praticamente abominam. De toda forma, é um exercício que tem lá o seu valor e que é, no mínimo, muito interessante. É uma forma de tentar se antecipar ao futuro, desvendando-o para uma ação preventiva.

Cenários prospectivos são elaborados a partir de tendências contemporâneas que indicam determinados rumos ou desdobramentos que podem ou não se concretizar. É quase um exercício de futurologia e, portanto, o grau de incerteza com relação ao seus resultado é muito grande.

De toda forma, é um método válido não apenas para a ação empresarial. Quando pensamos em termos de política internacional, elaborar cenários prospectivos nos ajuda a definir metas e atuar tendo em mente determinados objetivos. Por exemplo, pensar a economia e a política mundial daqui a 30 anos pode ajudar os formuladores de política externa a preparar melhor a inserção internacional do seu país.

O Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos é uma das instituições afeitas à construção de cenários prospectivos. Em um recente estudo dessa natureza, o Conselho prevê um cenário em que o Brasil permanecerá sendo o líder em desenvolvimento econômico da América Latina, à frente das economias do México e da Colômbia, que poderiam, na visão do Conselho, rivalizar ou competir com a brasileira. Para a construção desse cenário, os analistas americanos descartam, naturalmente, a possibilidade de retomada vigorosa do crescimento da economia argentina.

Outro resultado da mesma análise prevê que o crescimento chinês elevará a economia do país ao topo do ranking mundial, superando os Estados Unidos como principal potência econômica de todo o planeta. Aliás, não apenas a China continuará crescendo na Ásia. A Índia vem em logo em seguida, com o entorno regional participando e sendo beneficiado por esse ciclo de crescimento.

Isso levará a um gradativo deslocamento do centro mais dinâmico da economia para o continente asiático, aumentando também o papel desempenhado pelos países da região na política internacional. Vale registrar que esse tipo de previsão não é novo. Desde o final da década de 1980 e início dos anos 1990, analistas internacionais já indicavam essa tendência.

O que há de mais recente é a constatação de que o número de países emergentes está crescendo, indo além dos tradicionalmente reconhecidos como tal, que seriam Rússia, China, Índia e Brasil. Verifica-se agora a incorporação no grupo de emergentes da África do Sul, Turquia, Coréia do Sul, Indonésia, México, Colômbia e Nigéria.

Ademais, é interessante notar que há um movimento convergente que registra ao mesmo tempo a ascensão desses países e uma queda no crescimento, que em alguns casos chega a ser mesmo uma regressão, de economias do núcleo tradicional, que envolve basicamente países europeus e o Japão.

O fato de o Brasil constar como uma aposta do futuro não é garantia de que o país seguirá crescendo a ponto de se destacar na economia global. Todavia, as tendências atuais nos concedem evidências muito fortes que, de fato, teremos um papel diferenciado na política internacional das próximas décadas. Isso já é motivo suficiente para que comecemos a nos preparar com mais seriedade para o futuro.





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Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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