terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cultura e diversidade cultural

CNDL - Colégio Notre Dame de Lourdes
Segundo Ano - Primeiro Bimestre
Coleção Pitágoras
Sociologia - Unidade 1
Cultura e diversidade cultural
Natureza e cultura: diferenças e concepções


DESAFIANDO

A partir de agora, você vai se defrontar com dois instrumentos de comunicação que foram e ainda são extremamente utilizados na nossa sociedade: uma carta e um e-mail. Observe a seguir suas características e diferenças.

1. Relacione as diferenças entre os dois instrumentos de comunicação mostrados na página anterior.


2. Essas diferenças provocaram consequências nos hábitos das pessoas? Justifique sua resposta.

3. Que transformações culturais você observa no mundo atual com a crescente utilização de e-mails e, consquentemente, com o uso reduzido do instrumento carta?


Observe, agora, o Long Play - LP -, o Compact Disc - CD - e o MP4.



4. O LP, o CD e o MP4 são objetos tecnológicos com utilidades semelhantes, que provocaram modificações nas relações entre pessoas. Enumere algumas influências que esses objetos causaram no cotidiano das pessoas, nos dias de hoje.


5. Agora discuta, com seu colega, que relação pode-se fazer entre as questões anteriores respondidas por você e a cultura de uma sociedade. Registre suas ideias.



Observe as fotografias a seguir. Elas retratam ícones femininos de épocas diferentes.



6. Que diferenças podem ser observadas nos padrões de beleza das diversas épocas?




CONFRONTANDO

Para construirmos conhecimento, necessitamos confrontar nossas ideias e convicções. Após observar as diferenças das épocas e tecnologias, você vai pensar no que é natural e no que é cultural. Leia o texto que se segue sobre natureza e cultura e confronte as ideias apresentadas com as observações e análises elaboradas por você nas situações que foram propostas anteriormente.

A importância da determinação daquilo que é natural e daquilo que é cultural é justamente o debate do que pode ser determinado ou não pela ordem biológica. “Onde acaba a natureza? Onde começa a cultura?” (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 42). Para o autor, essas questões são fundamentais e negá-las seria negar a possibilidade de se estudar a própria cultura humana, uma vez que não seria possível saber o que é cultural e o que é determinado biologicamente.
Para Lévi-Strauss, a natureza compreende (possibilita e em certo sentido determina) a cultura; esta é parte, e também, uma certa modalidade de expressão de natureza, por já possuir cultura. Ele busca, no que é universal, o critério de natureza, e em tudo o que está ligado a uma norma específica, a uma regra, o pertencimento à cultura. Acrescenta-se ainda que as evoluções orgânica e cultural são análogos e complementares: suscita que não há aptidões inatas.
Um outro pensador, Vygotski (1996, p. 368), diz que cada pessoa é, em menor ou maior grau, o modelo da sociedade, ou melhor, da classe a que pertence, já que nela se reflete a totalidade das relações sociais.
Nos dia de hoje, torna-se difícil afirmar o que é natural, pois estamos impregnados de cultura. Cultura que é a forma comum e aprendida da vida, que compartilham os membros de uma sociedade, e que consta da totalidade dos instrumentos, das técnicas, instituições, atitudes, crenças, motivações e dos sistemas de valores que o grupo conhece (FOSTER).

7. A partir do texto, explique, através de exemplos do seu cotidiano, o que é natural e o que é cultural.




Leia o texto a seguir e responda às perguntas sugeridas posteriormente.


DIVERSIDADE CULTURAL

A sociedade brasileira reflete, por sua própria formação histórica, o pluralismo. Somos nacionalmente, hoje, uma síntese intercultural, não apenas um mosaico de culturas. Nossa singularidade consiste em aceitar – um pouco mais do que outros -- a diversidade e transformá-la em algo mais universal. Este é o verdadeiro perfil brasileiro… Sabemos, portanto, por experiência própria, que o diálogo entre culturas supera – no final – o relativismo cultural crasso e enriquece valores universais.

Passado o período colonial, ficamos mais permeáveis à troca de idéias e ao influxo de conteúdos culturais que vêm do exterior, fora da esfera luso-africana. Também aplaudimos, por razões políticas óbvias, o livre fluxo de idéias: é um passaporte para a democracia e o reconhecemos como uma garantia do respeito aos direitos humanos.

O mundo, infelizmente, não apresenta historicamente um jogo simples, equilibrado ou mesmo limpo na matéria: as disproporções em termos da escala ou da resistência das culturas, assim como da difusão das mensagens e dos produtos culturais, são com efeito muito grandes... A globalização, neste aspecto, apresenta uma preocupante tendência à homogeinização cultural, quando não à hegemonia pura e simples em certos setores culturais.

Mas “diversificar é preciso”: a diversidade cultural é, em um certo sentido, o próprio reflexo da necessidade abrangente da múltipla diversidade de vidas na Natureza, a fim de que essa possa como um todo renovar-se e sobreviver. A cultura é a “natureza” do homem. A diversidade cultural pode ser vista, por conseguinte, como a nossa “biodiversidade” -- aquela que deveríamos preservar, se não quisermos estiolar em um mundo globalizado que seria desprovido dos conteúdos, valores, símbolos e identidades que nos dizem intimamente respeito.

Hoje vivemos em um mundo que estimula a autonomia do econômico – o que implica privilegiar considerações comerciais em vez de outros aspectos sociais (como a emergência internacional da AIDS), enquanto, por sinal, promessas não cumpridas em favor do livre-comércio se empilham, já que nunca se contempla a produção dos países em desenvolvimento...

O fato é que, obviamente, as produções de natureza cultural não são meros serviços remuneráveis, oferecidos à sociedade por pessoas talentosas ou de sucesso. A cultura não apenas agrada, esclarece ou diverte com produtos que podem ser internacionalmente comercializados, como também provém e faz parte da própria trama das sociedades – inclusive ajudando-as a sustentar-se através de atributos que pertencem ao âmago de cada um, isto tanto nas sociedades modernas quanto nas tradicionais. Os produtos culturais no sentido mais lato são a verdadeira teia que mantém as sociedades coerentes e vivas: deixar perecer, sutil ou grosseiramente, a produção cultural endógena de um povo, substituindo-a por outra totalmente estranha, por melhor e mais cintilante que possa ser, é empobrecer este povo em sua própria identidade.

O comércio cultural não pode ser apenas o resultado de cálculos para obter vantagens comparativas que predominariam, seguindo um frio racionalismo econômico. Produtos e serviços culturais não podem ser tratados unicamente como mercadorias. Será que o quadro das disciplinas de comércio internacional é amplo o suficiente para comportar todas as complexidades do assunto?

Para usar uma analogia muito próxima à esfera nacional, envolvendo o mesmo conceito – o respeito pela identidade do outro – há, efetivamente, a necessidade de uma ação afirmativa internacional quanto à proteção da diversidade cultural. Poderíamos, em toda sinceridade, retirar a autonomia de qualquer governo na implementação de políticas públicas destinadas a proteger setores desavantajados do cenário cultural, quando confrontados somente pelas regras – ou o caos – do mercado global? A resposta é claramente não.

Acreditamos sinceramente que um enfoque meramente mercadológico, o do livre-comercio global, não seja o único parâmetro que deveríamos usar no tocante à questão da circulação de bens e serviços culturais.

O Brasil defendeu, como oportuna, na 32ª Conferência Geral da UNESCO -- recém-realizada em Paris, com a presença do Ministro da Cultura e artista Gilberto Gil -- a negociação, a curto prazo, de uma Convenção sobre a Proteção da Diversidade Cultural.

Esta idéia foi esmagadora e explicitamente defendida também por mais de 100 países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Um pequeno grupo de países (6 a 8) -- encabeçados pelos Estados Unidos -- prefeririam que a matéria fosse exclusivamente tratada na OMC. Mas, após árduos entendimentos, foi dado à Organização, por consenso, um mandato de negociação.

É importante que a sociedade brasileira se inteire dos debates internacionais que ora se iniciam formalmente – para que possa ser estruturada e formulada, de forma transparente, uma posição do Governo brasileiro afinada com todos os interesses nacionais em jogo.



LIMA, Antonio A. Dayrell de. Diversidade cultural. Disponível em: http//cultura.gov.br/noticiais/artigos/index. Acesso em 21 abr. 2007.

8. De que forma a globalização pode influenciar na produção cultural de um país?




9. “O comércio cultural não pode ser apenas o resultado de cálculos para obter vantagens comparativas que predominam, seguindo um frio racionalismo econômico. Produtos e serviços culturais não podem ser tratados unicamente como mercadorias”. Explique essa afirmação.




Observe a Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural elaborada pela Unesco, no seio do sistema das Nações Unidas, com o objetivo de assegurar a preservação e a promoção da fecunda diversidades das culturas.



IDENTIDADE, DIVERSIDADE E PLURALISMO
Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em beneficio das gerações presentes e futuras.


Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural
Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública.


Artigo 3 – A diversidade cultural, fator de desenvolvimento
A diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha que se oferecem a todos; é uma das
fontes do desenvolvimento, entendido não somente em termos de crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória.



DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITOS HUMANOS
Artigo 4 – Os direitos humanos, garantias da diversidade cultural
A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade humana. Ela implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones. Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo direito internacional, nem para limitar seu alcance.


Artigo 5 – Os direitos culturais, marco propício da diversidade cultural
Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são universais, indissociáveis e interdependentes. O desenvolvimento de uma diversidade criativa exige a plena realização dos direitos culturais, tal como os define o Artigo 27 da Declaração Universal de Direitos Humanos e os artigos 13 e 15 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Toda pessoa deve, assim, poder expressar-se, criar e difundir suas obras na língua que deseje e, em partícular, na sua língua materna; toda pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidade que respeite plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poder participar na vida cultural que escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.


Artigo 6 – Rumo a uma diversidade cultural accessível a todos
Enquanto se garanta a livre circulação das idéias mediante a palavra e a imagem, deve-se cuidar para que todas as culturas possam se expressar e se fazer conhecidas. A liberdade de expressão, o pluralismo dos meios de comunicação, o multilinguismo, a igualdade de acesso às expressões artísticas, ao conhecimento científico e tecnológico – inclusive em formato digital - e a possibilidade, para todas as culturas, de estar presentes nos meios de expressão e de difusão, são garantias da diversidade cultural.


DIVERSIDADE CULTURAL E CRIATIVIDADE
Artigo 7 – O patrimônio cultural, fonte da criatividade
Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente em contato com outras. Essa é a razão pela qual o patrimônio, em todas suas formas, deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.


Artigo 8 – Os bens e serviços culturais, mercadorias distintas das demais


Frente às mudanças econômicas e tecnológicas atuais, que abrem vastas perspectivas para a
criação e a inovação, deve-se prestar uma particular atenção à diversidade da oferta criativa, ao justo reconhecimento dos direitos dos autores e artistas, assim como ao caráter específico dos bens e serviços culturais que, na medida em que são portadores de identidade, de valores e sentido, não devem ser considerados como mercadorias ou bens de consumo como os demais.


Artigo 9 – As políticas culturais, catalisadoras da criatividade
As políticas culturais, enquanto assegurem a livre circulação das idéias e das obras, devem criar condições propícias para a produção e a difusão de bens e serviços culturais diversificados, por meio de indústrias culturais que disponham de meios para desenvolver-se nos planos local e mundial. Cada Estado deve, respeitando suas obrigações internacionais, definir sua política cultural e aplicá-la, utilizando-se dos meios de ação que julgue mais adequados, seja na forma de apoios concretos ou de marcos reguladores apropriados.



DIVERSIDADE CULTURAL E SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL
Artigo 10 – Reforçar as capacidades de criação e de difusão em escala mundial
Ante os desequilíbrios atualmente produzidos no fluxo e no intercâmbio de bens culturais em escala mundial, é necessário reforçar a cooperação e a solidariedade internacionais destinadas a permitir que todos os países, em particular os países em desenvolvimento e os países em transição, estabeleçam indústrias culturais viáveis e competitivas nos planos nacional e internacional.


Artigo 11 – Estabelecer parcerias entre o setor público, o setor privado e a sociedade civil
As forças do mercado, por si sós, não podem garantir a preservação e promoção da diversidade cultural, condição de um desenvolvimento humano sustentável. Desse ponto de vista, convém fortalecer a função primordial das políticas públicas, em parceria com o setor privado e a sociedade civil.


Artigo 12 – A função da UNESCO
A UNESCO, por virtude de seu mandato e de suas funções, tem a responsabilidade de:
a) promover a incorporação dos princípios enunciados na presente Declaração nas estratégias de desenvolvimento elaboradas no seio das diversas entidades intergovernamentais;
b) servir de instância de referência e de articulação entre os Estados, os organismos internacionais governamentais e não-governamentais, a sociedade civil e o setor privado para a elaboração conjunta de conceitos, objetivos e políticas em favor da diversidade cultural;
c) dar seguimento a suas atividades normativas, de sensibilização e de desenvolvimento de capacidades nos âmbitos relacionados com a presente Declaração dentro de suas esferas de competência;
d) facilitar a aplicação do Plano de Ação, cujas linhas gerais se encontram apensas à presente
Declaração.

Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf




10. Observando a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, investigue, junto com um colega, se ela é respeitada na realidade brasileira. Registre suas conclusões.


11. O artigo 1 - "A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade" - resguarda à humanidade o direito à diversidade cultural. Com a globalização mundial, as diversidades regionais dos países estão preservadas? Argumente.

SOCIOLOGIA – SEGUNDO ANO
CULTURA DE CONSUMO PÓS-MODERNA
Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira

Vários estudiosos da sociedade-cultura pós-moderna (entre eles Frederic Jameson, David Harvey, Mike Featherstone, Laslie Sklair, Zygmunt Bauman e Jean Baudrillard), destacam que a característica da mesma é, antes de tudo, a de ser uma sociedade-cultura de consumo, que reduz o indivíduo à condição de consumidor como consequência da automatização do sistema de produção. As novas formas referentes ao consumo estão relacionadas com os meios de comunicação, com a alta tecnologia, com as indústrias da informação (buscando expandir uma mentalidade consumista, a serviço dos interesses econômicos) e com as maneiras de ser e de ter do homem pós-moderno.
Tudo está relacionado ao consumo como, por exemplo, o modo de produção e de circulação dos bens, os padrões de desigualdade no acesso aos bens materiais e simbólicos, a maneira como se estruturaram as instituições da vida cotidiana (como a família, o lazer, os ambientes urbanos, etc.). Nossa sociedade-cultura de consumo constantemente cria novos espaços para os consumidores, tornando o consumo um sistema global que molda as relações dos indivíduos na pós-modernidade e é reconfigurada por tecnologias variáveis que determinam os padrões de consumo.
Estes aspectos são marcadores fortes de diferença entre a sociedade-cultura moderna e a pós-moderna, na qual se torna impossível negar que existe uma dinâmica de consumo diferente, que entre outras coisas pode ser representada no slogan de Jean Baudrillard de que “já não consumimos coisas, mas somente signos”, ao contrário do que afirma Don Slater que a sociedade-cultura de consumo está ligada à modernidade como um todo e que, portanto, não existe diferença neste aspecto em relação à pós-modernidade.
A sociedade-cultura de consumo pós-moderna está associada à complexidade humana, ou seja, envolve seus valores, desejos, hábitos, gostos e necessidades numa escala extremamente intensificada. No contexto pós-moderno, a estetização da vida cotidiana e o triunfo do signo retratam a subordinação da produção ao consumo sob a forma de marketing, com uma ascensão cada vez maior do conceito de produto, do design e da publicidade.
No contexto pós-moderno, a pluralidade de consumidores é considerada através de um processo governado pelo jogo da imagem, do estilo, do desejo e dos signos e distribui-lhes estilos de vida de acordo com os critérios de mercado. De acordo com Anthony Giddens, é essa mercantilização do consumo o fenômeno essencialmente novo; participa diretamente dos processos da contínua reformulação das condições da vida cotidiana; é geradora da chamada "experiência mercantilizada" da vida e estimula o crescimento econômico ao estabelecer padrões regulares de consumo promovidos pela propaganda e outros métodos; também força as pessoas a lidarem com a descartabilidade, com a novidade e as perspectivas de obsolescência instantânea.
Assim como resultado da produção existe uma "lógica do capital", nesta sociedade-cultura pós-moderna existe uma "lógica do consumo", estruturada em torno do simulacro, do hedonismo, da colagem, do "tudo vale", da efemeridade, etc. Nesta lógica consumista, tudo é feito no sentido de atrair o consumidor; as imagens desempenham um papel importante, sendo constantemente veiculadas pela mídia; os códigos são misturados ecleticamente e os significantes não possuem sentido, pois não apresentam relação alguma.
Para Frederic Jameson, a desconexão entre os significantes, a sobrecarga sensorial e a liquefação de signos e imagens da sociedade-cultura pós-moderna resultam em uma cultura “sem profundidade”, na qual se acaba a distinção entre alta-cultura e cultura de massa, equivalendo-se em valor, por exemplo, a cultura de painéis luminosos de casas/centros comerciais com a alta-cultura “séria” (filosofia, arte, romance, ópera...). Assim, palavras, imagens e néon misturam-se aleatoriamente em grandes letreiros, produzindo uma paisagem hedonista que faz com que na cidade contemporânea tenhamos consumo de espetáculos, espetáculos de consumo, consumo de signos, signos de consumo. Isto embaça as distinções entre comércio e cultura e caracteriza a cidade pós-moderna como um sistema utilitarista de produção e consumo.
Nesta cultura pós-moderna sem profundidade, a arte e a realidade trocaram de lugar numa "alucinação estética do real"; tudo, do mais banal ao mais marginal, estetizou-se, e desta maneira transforma-se a insignificância do mundo atual. No momento em que tudo é estetizado, que a vida nas grandes cidades tornou-se estetizada, os indivíduos são bombardeados por imagens e objetos descontextualizados, mas que evocam sonhos e desejos para um consumo desenfreado cujo resultado é o aumento indefinido dos lucros no capitalismo tardio.


É na sociedade-cultura capitalista tardia que o signo e a mercadoria juntaram-se para produzir o que Jean Baudrillard chama de "mercadoria-signo", ou seja, a incorporação de uma vasta gama de associações imagéticas e simbólicas, que podem ou não ter relação com o produto a ser vendido, processo este que recobre o valor de uso inicial dos produtos e torna as imagens mercadorias. O valor destas imagens confunde os valores de uso e troca, e a substância é suplantada pela aparência. Na “época do signo”, produz-se, simultaneamente, a mercadoria como signo e o signo como mercadoria. Para Jean Baudrillard, a transformação da mercadoria em signo foi o destino do capitalismo no século XX.
Isso levou Mike Featherstone a afirmar que "o consumo, não deve ser compreendido apenas como consumo de valores de uso, de utilidades materiais, mas primordialmente com o consumo de signos", o que é muito bem explorado pela publicidade, pela mídia e pelas técnicas de exposição, quando estas fixam nos produtos (desde automóveis, eletrodomésticos e bebidas, até uma simples caneta) imagens de beleza, sedução, auto-realização, romance e até mesmo de qualidade de vida, desestabilizando a noção original e tornando as mercadorias verdadeiras ilusões culturais, que fascinam o consumidor pós-moderno pela sua estética, pelas associações mirabolantes com os signos e pelas justaposições entre elas. Justifica-se então o privilégio dado pelo capitalismo pós-moderno à produção de signos e imagens, ao invés das próprias mercadorias.
Este é o "mundo do "faz-de-conta" da publicidade" (Mike Featherstone) que domina a sociedade-cultura de consumo pós-moderna e evidencia sua característica principal que é apresentar um grande número de bens, mercadorias, experiências, imagens e signos novos para que o homem pós-moderno deseje e consuma. Para David Harvey, a publicidade "é a arte oficial do capitalismo; traz para a arte estratégias publicitárias e introduz a arte nessas mesmas estratégias", tendo, portanto, juntamente com as imagens da mídia uma grande importância na dinâmica de crescimento do capitalismo tardio, através da manipulação dos desejos e gostos. Esta dinâmica está totalmente vinculada à capacidade de rapidez do mercado em explorar novas possibilidades e na sua rapidez em apresentar novos produtos, criar novas necessidades e novos desejos.
Como conseqüência da velocidade do tempo de vida dos produtos/serviços e, logo do consumo, temos a volatilidade e efemeridade de modas, técnicas de produção, processos de trabalho, idéias e valores; e no campo específico das mercadorias, a ênfase nos valores e virtudes da instantaneidade e da descartabilidade. Ao contrário da “economia da permanência” na modernidade, temos agora a configuração de uma “economia da transitoriedade” que parte do princípio de que é economicamente racional construir objetos baratos, que não podem ser consertados e que sejam descartáveis, ainda que eles possam durar menos. Este é um princípio impulsionador do consumo, que leva os indivíduos a uma ligação por períodos muito curtos com uma sucessão de objetos, os quais, em uma estratégia de lucro, vão se tornando obsoletos.
Ao forçar as pessoas a lidarem com a descartabilidade, com a novidade e as perspectivas de obsolescência instantânea, a cultura de consumo pós-moderna faz com que o indivíduo perca sua capacidade de organizar coerentemente seu passado e seu futuro, a vida deixa de ser um projeto com um significado, e suas práticas resultam numa heterogeneidade que se desenrola numa série de fragmentações do tempo vivido como presente perpétuo.
Como o esquizofrênico, o indivíduo pós-moderno enfoca determinadas experiências e imagens desconectadas, isoladas, e que não se articulam em seqüências coerentes, sendo este enfoque feito com intensa imersão e imediatismo. Isto quer dizer que o tempo e a história não constituem mais uma lógica compreendendo processos e relações sociais reais; a história reduz-se a significantes (estilos, referências, imagens, objetos) que podem circular independentemente de seus contextos originais. Neste quadro, a posição dos indivíduos pode ser assim caracterizada: "apatia em relação ao passado; renúncia sobre o futuro e uma determinação de viver um dia de cada vez" (Anthony Giddens).
Disponível em: http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/consumismo2.html


12. Faça uma relação das palavras e dos termos desconhecidos por você e discuta, com seu colega, o significado de cada um deles.



13. Explique, de acordo com o texto, o que é a sociedade-cultura de consumo.



14. Explique o slogan: “já não consumimos coisas, mas somente signos”.



15. O que significa a estetização da vida cotidiana e o triunfo do signo?






16. Destaque a mensagem mais importante que você concluiu do texto.






17. Observando a realidade da sociedade brasileira, dê exemplos da cultura de consumo. Discuta-os com seus colegas e registre-os a seguir.




18. A socióloga Valquíria Padilha afirma que "o shopping center cria um novo tipo de sociabilidade, mas uma sociabilidade destrutiva. Tanto para o ambiente, quanto para o cidadão. É uma manifestação de uma sociedade doente, cuja cura só se dá sob uma transformação radical". Discuta, com seus colegas, essa afirmação e registre as suas conclusões.




SISTEMATIZANDO




Agora você já tem condições de organizar suas observações, análises e conceitos. Então, vejamos o que dizem os autores clássicos sobre natureza e cultura.



Para Durkheim, a característica mais peculiar do conceito funcionalista de cultura refere-se precisamente à sua função social. A suposição básica é que todos os elementos de uma sociedade (entre eles a cultura) existem porque são necessários. Durkheim, poucas vezes, empregou o termo cultura como unidade analítica principal de sua disciplina. Ele não se ocupou exclusivamente nem principalmente da cultura como objeto de estudo, se não dos fatos sociais. Em As regras do método sociológico, a sociedade está composta por entidades, que têm uma função específica, integradas a um sistema análogo ao dos seres vivos, em que cada órgão está especializado no cumprimento de uma função vital.



Para Marx, as condições materiais "sustentam", por assim dizer, todos os pensamentos e ideias de uma sociedade. Isto significa que a superestrutura de uma sociedade é o reflexo de sua base material. As relações materiais, econômicas e sociais numa sociedade são chamadas, por Marx, de bases desta sociedade. O modo de pensar de uma sociedade, suas instituições políticas, suas leis e também sua religião, moral, arte, filosofia e ciência são por ele chamados superestrutura. Ou seja, a cultura é parte da produção material, o capital passa a controlar os meios de produção cultural.



Weber, em sua obra, não se refere especificamente ao conceito de cultura, mas o utiliza para suas diversas análises da religião. Na obra Ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber reflete, precisamente, o esforço de perceber a gênese cultural da ética protestante que equivaleria à maior transformação da história humana. A leitura que percebe a ética protestante interferindo apenas na ética do trabalho, ou seja, com efeitos apenas na esfera econômica da sociedade, não percebe a magnitude de sua dimensão. Trata-se aqui de uma "recriação" do mundo, no sentido mais forte, mais amplo e mais profundo deste termo: produz-se um novo racionalismo.

Racionalismo cultural, para Weber, significa que todas as esferas da sociedade, assim como todas as ações individuais, no contexto dessas, vão obedecer a um novo quadro de referência. No caso do racionalismo ocidental, esses quadro de referência é o princípio da dominação do mundo. Isto implica que todas as dimensões do pensamento e das ações humanas, nos seus aspectos subjetivo e objetivo, social e objetivo, formam a própria cultura.



SÍNTESE





O momento agora é de síntese das ideias apresentadas na unidade. Aprecie trechos das letras das músicas a seguir. Compare-se e relacione-as. Responda às questões posteriormente e construa a sua própria síntese.




Nenhum comentário:

Postar um comentário