Paraguai: guerra injusta?
Pio
Penna Filho*
O Papa Francisco, em recente visita ao
Paraguai, afirmou que a guerra do Paraguai foi injusta. Sem dúvida, a guerra do
Paraguai foi injusta, sobretudo com o povo paraguaio. Mas qual guerra pode ser
considerada justa? O que é necessário para definir uma guerra como justa?
Talvez o Papa tenha falado isso porque é um humanista e, por princípio,
contrário a todas as formas de guerra.
É muito difícil afirmar que uma guerra é
justa. Geralmente é aceito que um país tem o direito de se defender quando
sofre uma agressão. Se for esse o caso para definir que uma guerra é “justa”,
pelo menos em seu ponto de partida, então a guerra do Paraguai começou a partir
de um ato de justiça, porque afinal o Brasil foi atacado por tropas paraguaias
que, além de invadirem o território do país, assassinaram cidadãos brasileiros
e saquearam propriedades por onde passaram.
Temos que parar com a vitimização do
Paraguai em decorrência da guerra do século XIX. É bobagem e proselitismo
barato dizer que o Brasil foi o malvado e o Paraguai, a vítima; o país bonzinho
destruído pelo poderoso Império brasileiro.
Os paraguaios seguiram até o fim o seu
líder supremo, o marechal Solano López, que arriscou a existência de sua pátria
em nome de um objetivo político impossível de ser alcançado, que era impor os
interesses do seu país ao Brasil por meio de uma medida de força. Aliás, a
reabilitação histórica de Solano López é, no fundo, um despropósito, porque
afinal foi ele o artífice de sua própria queda e da ruína do seu país. É esse
tipo de líder ou herói que os paraguaios querem cultuar?
López teve o destino que mereceu. Suas
próprias ações levaram a isso. Acusar o Imperador e os militares brasileiros de
terem conduzido uma guerra injusta não faz o menor sentido, a não ser na
perspectiva da vitimização de um país que foi vítima do seu próprio líder
supremo. Não devemos, como brasileiros, portanto, ceder a esse canto da sereia
do revisionismo histórico sem fundamento nos fatos.
É preciso, portanto, colocar a questão em
perspectiva. Nesse caso, não há como mudar a História. O que aconteceu foi que
o Paraguai, numa atitude insana, atacou o Brasil e a Argentina e pagou para
ver. O que queria Solano López? Que o Império brasileiro recuasse e aceitasse a
vontade política do Paraguai, intimidado por uma agressão militar? Ora, isso
simplesmente não existe.
O Brasil exerceu o seu direito e, diria
mesmo, sua obrigação de revide a uma agressão externa. E é sempre bom lembrar
que quem se preparou para a guerra foi o Paraguai. Nem o Brasil e nem a
Argentina pensavam em guerrear com o Paraguai, por isso o prolongamento do
conflito, uma vez que os seus exércitos estavam despreparados para a guerra.
É verdade que a guerra atingiu um patamar
absurdo de violência e que quem pagou o preço mais caro por ela foi o povo
paraguaio. Mas qual guerra não é violenta? A violência é inerente à guerra.
Acusações de crueldade em guerras são redundantes e, por vezes, são usadas como
forma de denegrir a imagem de um dos atores por motivos políticos. Tão covarde
quanto matar crianças em combate é colocá-las em combate, isso apenas para
ilustrar um dos episódios mais criticados da guerra.
Portanto, a guerra do Paraguai foi injusta
como todas as guerras são injustas. É preciso parar com esse proselitismo
barato de que o Paraguai é o que é por causa do Brasil.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB),
Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Estratégicos do Exército
Brasileiro (CEEEX). E-mail: piopenna@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário