quinta-feira, 16 de julho de 2015

Confira o artigo do professor Pio Penna

Paraguai: guerra injusta?

Pio Penna Filho*
 
O Papa Francisco, em recente visita ao Paraguai, afirmou que a guerra do Paraguai foi injusta. Sem dúvida, a guerra do Paraguai foi injusta, sobretudo com o povo paraguaio. Mas qual guerra pode ser considerada justa? O que é necessário para definir uma guerra como justa? Talvez o Papa tenha falado isso porque é um humanista e, por princípio, contrário a todas as formas de guerra.
É muito difícil afirmar que uma guerra é justa. Geralmente é aceito que um país tem o direito de se defender quando sofre uma agressão. Se for esse o caso para definir que uma guerra é “justa”, pelo menos em seu ponto de partida, então a guerra do Paraguai começou a partir de um ato de justiça, porque afinal o Brasil foi atacado por tropas paraguaias que, além de invadirem o território do país, assassinaram cidadãos brasileiros e saquearam propriedades por onde passaram.
Temos que parar com a vitimização do Paraguai em decorrência da guerra do século XIX. É bobagem e proselitismo barato dizer que o Brasil foi o malvado e o Paraguai, a vítima; o país bonzinho destruído pelo poderoso Império brasileiro.
Os paraguaios seguiram até o fim o seu líder supremo, o marechal Solano López, que arriscou a existência de sua pátria em nome de um objetivo político impossível de ser alcançado, que era impor os interesses do seu país ao Brasil por meio de uma medida de força. Aliás, a reabilitação histórica de Solano López é, no fundo, um despropósito, porque afinal foi ele o artífice de sua própria queda e da ruína do seu país. É esse tipo de líder ou herói que os paraguaios querem cultuar?
López teve o destino que mereceu. Suas próprias ações levaram a isso. Acusar o Imperador e os militares brasileiros de terem conduzido uma guerra injusta não faz o menor sentido, a não ser na perspectiva da vitimização de um país que foi vítima do seu próprio líder supremo. Não devemos, como brasileiros, portanto, ceder a esse canto da sereia do revisionismo histórico sem fundamento nos fatos.
É preciso, portanto, colocar a questão em perspectiva. Nesse caso, não há como mudar a História. O que aconteceu foi que o Paraguai, numa atitude insana, atacou o Brasil e a Argentina e pagou para ver. O que queria Solano López? Que o Império brasileiro recuasse e aceitasse a vontade política do Paraguai, intimidado por uma agressão militar? Ora, isso simplesmente não existe.
O Brasil exerceu o seu direito e, diria mesmo, sua obrigação de revide a uma agressão externa. E é sempre bom lembrar que quem se preparou para a guerra foi o Paraguai. Nem o Brasil e nem a Argentina pensavam em guerrear com o Paraguai, por isso o prolongamento do conflito, uma vez que os seus exércitos estavam despreparados para a guerra.
É verdade que a guerra atingiu um patamar absurdo de violência e que quem pagou o preço mais caro por ela foi o povo paraguaio. Mas qual guerra não é violenta? A violência é inerente à guerra. Acusações de crueldade em guerras são redundantes e, por vezes, são usadas como forma de denegrir a imagem de um dos atores por motivos políticos. Tão covarde quanto matar crianças em combate é colocá-las em combate, isso apenas para ilustrar um dos episódios mais criticados da guerra.
Portanto, a guerra do Paraguai foi injusta como todas as guerras são injustas. É preciso parar com esse proselitismo barato de que o Paraguai é o que é por causa do Brasil.




* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB),  Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Estratégicos do Exército Brasileiro (CEEEX). E-mail: piopenna@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário