O Interesse Chinês na América Latina
Pio
Penna Filho*
A China vem aí. Ou melhor, a China já
chegou na América Latina. Nas últimas três décadas assistimos a um crescimento
considerável da economia chinesa, que se projetou em direção aos quatro cantos
do mundo. Hoje, estamos assistindo a uma verdadeira “mundialização” da China.
Além da agressividade comercial, os
chineses também estão participando ativamente em grandes investimentos
espalhados pelo mundo. Não é a toa que a China atingiu o patamar de segunda
maior economia mundial.
Inicialmente, as empresas chinesas se
projetaram vendendo todo tipo de bugiganga. A maior parte dos seus produtos era
de baixa tecnologia e valor agregado, mas esse quadro mudou rapidamente. Por
exemplo, hoje, no Brasil, os chineses instalaram montadoras de automóveis e
estão entrando pesado nesse mercado.
Ainda em termos comerciais, a maior parte
dos produtos que os consumidores tem acesso são “made in china”. Não importa a
marca; muitos, mas muitos produtos, são feitos ou montados na China e vendidos
ao redor do mundo. Basta uma olhadela mais atenta nas embalagens e qualquer
leitor irá comprovar como sua vida está impregnada de produtos “chineses”.
E há muito mais além do comércio. Empresas
chinesas estão investindo pesado em diversos países, inclusive no Brasil. A
maioria desses investimentos são destinados à criação de infraestrutura e
exploração de matérias-primas, essenciais para a continuação do crescimento
chinês.
Ou seja, trata-se de um padrão já
conhecido pelos países menos desenvolvidos: por um lado, o que os chineses
estão procurando são matérias-primas para manter suas indústrias a pleno
“vapor”; por outro, buscam mercados para despejar seus produtos
industrializados. Esse é justamente o perfil das relações Brasil-China. Um
perfil acima de tudo assimétrico.
A produção chinesa é muito mais barata que
a brasileira. Isso tem a ver basicamente com a produtividade do trabalhador
chinês, sua baixa remuneração, a carga tributária chinesa (incomparavelmente
menor que a brasileira) e um vasto e complexo programa de apoio estatal à exportação.
Além disso, o empresariado chinês também pensa e age em termos de mercado
mundial, diferentemente da maior parte do empresariado brasileiro.
O procedimento é basicamente o mesmo, não
importa se é a China ou outro país economicamente desenvolvido. Isso quer dizer
que tanto faz uma China que se diz “comunista” ou um Estados Unidos que se diz
“capitalista”, o que move o seu comportamento é a busca por vantagens
econômicas. Portanto, os governantes brasileiros e latino-americanos deveriam
parar de se iludir ou de iludir a população e observar de maneira mais crítica
e inteligente quais são os interesses em jogo.
Não adianta nada sair de uma dependência e
cair em outra. A China não será a salvação para nenhum país do mundo, muito
menos para um país da América Latina. O que os chineses desejam é ampliar os
seus negócios e alcançar os seus objetivos em termos de manter, o máximo
possível, o seu espetacular crescimento. E para isso precisam do mundo.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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