Genebra
2 e a Síria
Durante
essa semana vários países estão reunidos em Montreux (Suíça) para tentar pelo
menos encaminhar uma proposta que sinalize para a paz na tumultuada Síria. A
Conferência é pelo menos um passo adiante, diante de tantos recuos verificados
desde que a ONU iniciou suas tentativas de solução para a crise síria.
Infelizmente, contudo, persistem muitos dilemas e dificilmente uma solução
definitiva será encontrada durante esse encontro que está sendo chamado de
Genebra 2.
As
divergências políticas são enormes. No plano interno, governo e rebeldes trocam
acusações de variados crimes de guerra e continuam falando línguas diferentes.
Sabem que a guerra tem que ter um fim, haja vista o elevado custo humano e
econômico que está solapando o país. Como nenhum dos dois lados demonstrou ter
força suficiente para subjugar o outro, o diálogo é imperativo e não apenas uma
alternativa. Ou seja, mais cedo ou mais tarde, eles terão que conversar e fazer
concessões mútuas.
No
plano regional as divergências também permanecem. Não há entendimento entre os
atores que prestam apoio a um e outro lado. Pelo menos até o momento todos se
mantem muito ativos em prestar todo tipo de ajuda aos seus “aliados”, seja por
meio do fornecimento de armas, tropas ou dinheiro, o que, convenhamos, só faz
prolongar a guerra e o sofrimento do povo sírio. Nesse sentido, dois países
ganham destaque, embora não sejam os únicos envolvidos no conflito (Irã e
Arábia Saudita).
No
plano internacional, mais divergências, sobretudo entre os Estados Unidos e a
Rússia, sendo que esta se tornou uma espécie de protetora do regime de Bashar
al Assad. Os Estados Unidos sabem que não querem a continuação do regime, mas
demonstram preocupação com o que pode acontecer com a queda de Assad.
Para
os norte-americanos, pior que o atual governo seria uma Síria dominada por
grupos radicais islâmicos, à maneira dos talibãs no Afeganistão. Ou mesmo uma
Síria dividida, com algum grupo ou grupos dominando determinada parte do país.
É bem provável que o governo Obama tenha levado altamente em consideração esse
aspecto ao não promover uma intervenção direta meses atrás, mesmo que de forma
limitada.
Em
Genebra 2 existem posições aparentemente inflexíveis, tanto da parte dos atores
sírios diretamente envolvidos no conflito, como dos seus apoiadores externos.
Caso elas sejam mantidas, não há muita chance para a paz. Se os insurgentes não
aceitarem um arranjo político que, de alguma forma, seja interessante para
Bashar al Assad, mesmo que esse tenha que sair do governo, dificilmente haverá um
ponto de chegada. Por sua vez, se o governo não aceitar a inclusão dos
insurgentes em um eventual governo de transição ou outro acordo qualquer que
contemple interesses relevantes para eles, a negociação também tem tudo para
empacar.
A
Conferência ainda não chegou ao fim, mas não é preciso ser profeta ou adivinho
para saber que é praticamente impossível que ela redunde em um sólido, ou mesmo
precário, acordo de paz. O que está acontecendo em Montreux é apenas um passo
adiante num terreno absolutamente instável, mas de toda forma é um passo à
frente.
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Professor
do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e
Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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