A França no Mali
Pio Penna Filho
A recente intervenção francesa no
Mali, que está tendo grande repercussão internacional, envolve também outros
estados europeus que estão lhe dando apoio político e logístico. Mas o que quer
a França no Mali? Por que os franceses estão se metendo numa nova guerra longe
de casa? Seriam os rebeldes do Mali, de fato, uma ameaça para a segurança da
Europa como afirmou a chanceler alemã Angela Merkel? O objetivo desse artigo é
justamente tentar entender e discutir um pouco essas questões.
Incapaz de controlar e impor a
ordem no país, o governo do Mali foi buscar apoio externo para conter o avanço
dos insurgentes vindos do norte. Vale lembrar que o país passou por um golpe
militar em 2012, fragilizando ainda mais a precária estrutura governamental.
Outro agravante que colocou ainda
mais combustível na fogueira política do país foi o retorno de mercenários
vindos da Líbia após a queda de Muammar Khadafi. Grande parte deles acabou se
juntando aos grupos rebeldes que atuam no norte do Mali, com o detalhe que
retornaram bem armados e municiados com as sobras da campanha na Líbia.
Mas o que despertou mais a
atenção internacional para o país foi a presença crescente de militantes
islâmicos radicais atuando na região. Dentre eles se destacam o Ansar Dine e o
Movimento pela Unidade e Jihad no Oeste da África (Mujao).
Com esses grupos estabilizados e
controlando a maior parte do território do país e sem nenhuma perspectiva de
vitória das forças governamentais, foi aí que a França colocou sua máquina de
guerra para funcionar.
Uma parte da explicação para a
intervenção francesa no Mali é que a França, como ex-potência colonial, mesmo
após o processo de descolonização continuou mantendo a maior parte das suas
ex-colônias como zonas de influência. Ou seja, os franceses não abandonaram a
África e mantiveram uma política muito ativa para a maior parte das ex-colônias,
inclusive mantendo bases militares em diversos países e interferindo
regularmente nos assuntos internos desses países.
Além disso, existem também os
interesses materiais. A exploração dos recursos naturais de algumas das antigas
colônias permaneceu sendo uma atividade quase que exclusiva de empresas
francesas, como a mineração de urânio e outros minerais estratégicos.
Mas o grande problema do Mali e
de tantos outros países africanos reside na pobreza generalizada e na falta de
um poder público que alcance a população. Não é à toa que as revoltas surgem na
periferia dos Estados, justamente nas áreas mais abandonadas. Enquanto o
problema da inclusão social não for enfrentado, as esperanças são poucas. Não
há solução estritamente militar para essa questão.
É difícil acreditar que o Mali
seja uma ameaça para o futuro da Europa, mesmo que controlado por islamitas
radicais. Se esse for o caso, é de se prever que a guerra contra os muçulmanos
fundamentalistas não irá acabar tão cedo. Estão aí o Paquistão, o Afeganistão e
a Somália para provarem essa assertiva.
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Professor do Instituto de
Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do
CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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