Sexta Economia Mundial
Pio Penna Filho*
Essa semana o The Guardian, jornal britânico, resolveu antecipar o ranking das maiores economias mundiais e colocou o Brasil em sexto lugar, ultrapassando a Grã- Bretanha. Embora esse dado ainda não seja oficial é bem possível que o Brasil, de fato, inicie 2012 à frente dos ingleses em termos do tamanho do seu Produto Interno Bruto. Mas essa informação, por si só, não quer dizer muita coisa.
A comparação pura e simples do tamanho da economia de um país com a de outro pode levar a muitos equívocos. Exemplo desse tipo de discrepância é comparar apenas o tamanho das economias do Brasil e da Grã-Bretanha. Em termos absolutos o Brasil pode até possuir uma economia maior que a da Grã-Bretanha, mas e outros indicadores como nível educacional, acesso a saúde, distribuição de renda, em suma, desenvolvimento humano? Nesses termos, como estamos?
É bem sabido por qualquer brasileiro que, em termos gerais, vive-se muito melhor na Grã-Bretanha do que no Brasil. Não será apenas com o crescimento do Produto Interno Brutoque atingiremos o nível social dos países do chamado primeiro mundo.
Nos anos 1970, quando a economia brasileira crescia a taxas extraordinariamente altas durante o chamado “milagre brasileiro”, os nossos economistas mais liberais costumavam dizer, a plenos pulmões, que era preciso fazer o “bolo crescer” para depois dividi-lo. Ora, as políticas econômicas então adotadas apenas reforçaram uma das piores características da economia brasileira: a concentração de renda. Enfim, o bolo até cresceu, mas não foi dividido ou, quando muito, o foi de forma muito desigual.
Se, por um lado, chegamos a ser a oitava economia do mundo, por outro, tínhamos uma das piores discrepâncias sociais entre todos os países do planeta. Os mais ricos do Brasil – uma minoria – viviam como os mais ricos dos países ricos e os nossos pobres e excluídos – de longe, a maioria – viviam como os mais pobres do mundo. Esse quadro, infelizmente, não mudou tanto assim, embora alguns avanços tenham sido verificados em anos mais recentes.
Mesmo considerando que a economia brasileira cresceu e estejamos à beira de atingirmos a sexta posição mundial, ainda falta muito, mas muito mesmo, para atingirmos o padrão dos países europeus.
Continuamos pessimamente colocados em termos de distribuição de renda e em investimentos sociais. Nosso sistema educacional é precário e a saúde pública um drama. As elites brasileiras são, em grande medida, descompromissadas com o seu próprio país. Os políticos, que deveriam pensar o futuro da nação, não costumam ir além dos interesses próprios, por mais mesquinhos que se apresentem. A corrupção graça em terras brasileiras e, pior ainda, a impunidade é nossa marca registrada.
Quando consideramos todos esses problemas que insistimos em ignorar no nosso dia a dia, ficamos intimidados e até mesmo envergonhados com o crescimento concentrado da riqueza em nosso país. Se nada fizermos, não importa a sexta posição, que seja a quarta ou terceira posição mundial, continuaremos no mesmo lugar, campeões da desigualdade e da pobreza convivendo com a pujança e a riqueza, tal qual acontece nas nossas grandes cidades, onde esses dois mundos estranhamente se juntam e viram atração turística para curiosos olhares estrangeiros.
*Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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